Sem sinalização de melhora da economia interna, fabricantes de eletrodomésticos de linha branca (geladeira, fogão e lavadoras) tentam dimensionar o tombo em 2016. Representantes do setor projetam recuo de cerca de 20% nas vendas este ano sobre 2015.
Para algumas categorias a estimativa de declínio no volume de vendas chega a 40%, revelou ao DCI o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula. A entidade ainda não divulgou a projeção oficial para 2016.
"O cenário para o setor piorou. Em janeiro e fevereiro eu tinha mais esperança, mas agora alguns segmentos falam em queda até na comparação com 2014", comentou. Na avaliação dele, os empresários estão mais cuidadosos, assim como os consumidores. E se até o fim de março não houver mudança, a perspectiva pode piorar.
A gigante Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, projeta retração de 10% em vendas no Brasil. A previsão foi atribuída ao enfraquecimento da demanda, reflexo da crise econômica local.
"Esperamos um ano flat, sem um mergulho grande. Mas o primeiro trimestre deve ser ruim, porque os primeiros meses de 2015 foram fortes", afirmou o vice-presidente de relações institucionais, comunicação, sustentabilidade e manufaturas da Whirlpool Latin America, Armando Valle. Ele destacou que não vê uma solução para os problemas da economia brasileira no curto prazo e ainda há muita incerteza quanto ao futuro do mercado.
A companhia seguiu o movimento do setor e reduziu os turnos nas fábricas e a atividade atual está em linha com o apurado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), informou o executivo. De acordo com o último levantamento da CNI, a utilização da capacidade instalada pela indústria ficou em 62% em janeiro, estável na comparação com dezembro e cinco pontos percentuais abaixo em relação a janeiro de 2015.
Valle citou a saída da Mabe do mercado brasileiro como um dos fatores que pode favorecer a Whirlpool. No fim do ano passado, a Mabe do Brasil entrou com pedido de recuperação judicial e no início de 2016 demitiu todos os funcionários. A Capital Administradora, responsável pela gestão da massa falida da empresa, tenta fechar um acordo com os funcionários que ocupam as fábricas da Mabe há pouco mais de um mês.
"Com a saída da Mabe, o mercado de eletrodomésticos segue ruim, mas quem continua acaba herdando algum volume de vendas. Com isso, a situação fica um pouco melhor dependendo da empresa", disse o executivo da Whirlpool.
O presidente da Eletros também avaliou a saída da Mabe do País como um fator que pode favorecer as fabricantes de linha branca. "Pode ser que um player importante deixando o mercado ajude um pouco quem fica, mas isso não significa mais vendas para uma determinada empresa".
Alternativas
O diretor da Whirlpool observa que a companhia já realizou ajustes na capacidade e tem novos produtos, o que pode amenizar a situação.
"O consumidor, por mais difícil que seja a situação, não deve trocar os eletrodomésticos que adquiriu nos últimos anos por itens mais baratos. Os refrigeradores frost free continuam sendo uma tendência no Brasil e a demanda pela nossa cervejeira não caiu. Esse produto foi lançado no período da Copa [em 2014] e ainda faz bastante sucesso", disse ele.
A Whirlpool também iniciou uma série de ações junto aos fornecedores e quer evitar a dependência de insumos importados, disse o diretor de relações com investidores da companhia. Segundo Valle, a companhia vem organizando programas e cursos de inovação e negócios para os fornecedores, numa tentativa de ajudar os empresários locais a trabalhar em um ambiente de negócios mais difícil.
A fabricante brasileira de componentes Emicol, por exemplo, tem se beneficiado do movimento de substituição de insumos importados desde o ano passado. Com a alta de quase 50% do dólar frente ao real em 2015, muitas empresas têm procurado fornecedores com produção local para evitar o impacto do dólar nos custos.
"O segmento de linha branca sofreu uma grande retração dos volumes produzidos em 2015. Em alguns produtos como lavadoras de roupa, onde fornecemos muitos componentes, a queda foi até maior que a média do setor", afirmou o diretor de novos negócios da Emicol, Feres Macul Neto. Mais de 70% da produção da empresa é destinada a fabricantes de linha branca e o restante atende a demanda do setor automotivo, dois setores que acumulam quedas nas vendas, em geral.
Neto conta que a Emicol desenvolveu novos produtos, ampliou a carteira de clientes no País e no exterior para driblar a retração na categoria.
"Trabalhamos como uma alternativa aos componentes importados em 2015 e o aumento das exportações também tem contribuído para o nosso resultado", lembrou o executivo. No ano passado, a empresa manteve o volume de vendas e o faturamento em linha com 2014.
A meta da Emicol para 2016 é ampliar as vendas em até 6% e o faturamento em 8%, apostando também na oferta de componentes mais modernos, mas com menor preço para a indústria de linha branca. Neto observou que as fabricantes têm procurado alternativas mais econômicas para a composição de eletrodomésticos, evitando aumentar o preço final dos produtos.
Veículo: Jornal DCI