O recorde nas exportações de milho em 2015 reduziu os estoques do grão para o atual período de entressafra. A demanda interna chegou e os preços já dispararam mais de 70%. Em uma reação em cadeia, o custo da alimentação animal subiu e se tornou o principal entrave para os pecuaristas que confinam gado.
A prática permite melhores resultados na terminação do boi, como ganho de peso em um tempo médio de 90 dias.
Na próxima semana, a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) deve soltar a projeção oficial para as intenções de confinamento em 2016. A única garantia até agora é de que "este será um ano mais difícil nos custos de produção por conta do alto preço do milho neste momento", adiantou o gerente executivo da entidade, Bruno de Jesus.
O grão é uma das bases para a ração do boi e a dieta representa entre 70% e 80% das despesas dos 'boitéis'. A Assocon enxerga um crescimento na ordem de 23% neste desembolso, na variação anual. Ainda assim, o analista de mercado da Scot Consultoria, Alex Lopes, acredita que é possível obter um retorno de 2% a 3% sobre o investimento. Em 2014, este último percentual já atingiu 8%.
Cenário
Por um motivo ou outro, a prática de confinamento vem caindo. Desde meados de 2013, o aumento no valor do bezerro para reposição se tornou um problema. No ano passado, além disso, o fechamento de plantas frigoríficas limitou ganhos da arroba durante o segundo semestre. O resultado foi um confinamento 5% menor, segundo a Assocon. A retração foi de 769 mil para 731 mil cabeças.
A projeção inicial, divulgada no final de 2015, é de que este ano haveria uma nova queda no índice, de 3,5%. "O número pode até ficar estável, mas não acredito em perspectivas positivas", admite Jesus.
Como alternativa, estes pecuaristas que saírem dos boitéis devem apostar no semiconfinamento ou no confinamento a pasto, dentro da própria fazenda. O que não tende a acontecer é o encerramento integral da prática, visto que trata-se de bovinos com tecnologia embarcada, aditivos na alimentação e até genética modificada. Partir totalmente para o pasto, ou melhor não sair dele, dificulta a diluição dos custos do processo.
Reversão
O especialista da Scot alerta para uma mudança no ciclo vigente para a pecuária. Entre os anos de 2010 a 2013, havia ampla oferta de animais e os valores da arroba caminhavam pressionados. Começou, então, o abate de fêmeas (matrizes) para regular a disponibilidade de animais. O jogo virou, os preços do bezerro para reposição avançaram e se tornaram um entrave. De 2014 em diante, as fêmeas passaram a ser retidas. Hoje, um boi magro para reposição custa em torno de R$ 2.030, algo não muito distante dos R$ R$ 1.960 de março do ano passado. Ultrapassada a disparidade entre estes valores, a tendência é que a oferta volte a ser maior a partir do ano que vem.
"O confinamento, de fato, não vai deixar de existir, ele vai depender de uma maneira mais estratégica. Se o pecuarista não intensificar a terminação do gado neste ano, aproveitando o patamar positivo, corre o risco de ter comprado um bezerro caro e vender a preços baixos em 2017", explica Lopes. Junto à oferta maior, o próximo ano deve manter a redução na demanda interna e externa pela carne.
Ontem (31), o Indicador Esalq/BM&FBovespa encerrou a R$ 157,98 por arroba. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Em termos nominais, os atuais patamares são os maiores de toda série, iniciada em 1994. Em termos reais, deflacionados, os valores são inferiores apenas às médias mensais verificadas entre novembro de 2014 e junho de 2015, quando ultrapassavam os R$ 160,00 - o recorde real, de R$ 163,74, foi registrado em abril de 2015.
Veículo: Jornal DCI