Em plena colheita, os preços do arroz no mercado interno seguem em queda livre, abaixo do custo de produção. A competitividade das lavouras da Argentina, Uruguai e Paraguai torna o grão destes países atrativos para exportação, que, com o dólar mais fraco, tem se tornado uma alternativa para a indústria brasileira.
O contexto só fortalece as expectativas de nova redução na área de plantio arrozeiro no País, para a safra 2016/ 2017, após o prejuízo de pelo menos 15% no ciclo atual, com fortes chuvas em reflexo ao El Niño no Rio Grande do Sul, estado detentor de 70% do cultivo nacional. A rizicultura do estado perde espaço para a soja, pela ampla liquidez. Do lado do produtor, as vendas externas também se tornaram a melhor saída para alavancar o faturamento.
Em março, a moeda norte-americana encerrou o mês com queda de 10,17%, o pior resultado mensal em 13 anos. No trimestre, a retração está acumulada em 8,91%.
"Nós perdemos em competitividade para Argentina, Paraguai e Uruguai por questões tributárias. Eles têm condições de abastecer o mercado brasileiro sem colocar em risco o consumo interno, mesmo com as exportações do produto do Brasil", afirma o diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Tiago Barata.
Especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informam, em nota, que a indústria nacional tem se queixado do grão beneficiado, em termos de produtividade. Mesmo com os rizicultores diminuindo o ritmo de vendas para focar na colheita, "o enfraquecimento do dólar frente ao real pode estimular as importações", diz a nota. No acumulado parcial de março, o Indicador Esalq/Senar-RS, recuou 4,86%.
Na lavoura
O executivo do Irga destaca que o salto de 17,8% nos custos de produção, aliado a preços baixos, tem desestimulado o produtor rural.
Na mesma linha, o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Osorio Dornelles, conta que entre as safras 2014/2015 e 2015/2016 a área gaúcha de arroz passou de 1,12 milhão de hectares para 1,083 milhão. "Maranhão, que é o segundo maior produtor do País, reduziu em 40% o plantio. Tememos que haja uma redução significativa aqui também."
Dornelles lembra que a despesa, considerada a produtividade de 150 sacas por hectare, chega a R$ 44,71 por saca. O preço máximo atingido no pico da entressafra foi de R$ 42,50 por saca. Ontem, segundo o Cepea, o índice fechou a R$ 39,54 por saca.
Retomada
Com valores superiores a R$ 27 milhões, segundo dados do Banco Central, os créditos de pré-custeio para a lavoura de arroz apresentaram no mês de fevereiro com crescimento de 2.700% em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo em relação a 2014, ano considerado até então recorde na liberação de crédito, a elevação é de 100%.
Para o presidente da Federarroz, o crédito tem sido tomado por produtores que não foram tão afetados pelo clima e conseguem manter um planejamento. Do mais, ainda há um grande endividamento.
Veículo: Jornal DCI