Previsibilidade, confiança e credibilidade. Para o ex-embaixador do Brasil na Inglaterra e nos Estados Unidos e presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Rubens Barbosa, a reconstrução da imagem do País no exterior, gravemente afetada pelas crises econômica e política, passa, necessariamente, por esses três elementos. Palestrante em evento realizado ontem pela Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Barbosa explicou que somente com a restauração desse tripé o Brasil vai mudar a percepção de insegurança que hoje paira sobre os investidores.
O ex-embaixador avaliou que, nos últimos anos, o Brasil enfrentou diversas situações que contribuíram para prejudicar a sua imagem. A mudança na política econômica feita pelo primeiro governo de Dilma Rousseff, após a crise de 2008, foi, segundo Barbosa, uma das responsáveis pela piora na percepção externa do País. Com a adoção das novas medidas, o governo perdeu confiança e credibilidade. O presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp também citou como fator a “campanha” lançada no exterior pelo próprio governo de Dilma colocando em xeque a legitimidade do processo de “impeachment”.
“Isso causou um problema grande. Participei de um evento em Madri, com empresas espanholas que têm negócio no Brasil, e elas estavam preocupadas com a situação do País, porque essa ‘campanha’, pela conexão que o PT (Partido dos Trabalhadores) tem no exterior, avançou. Como ainda não tem a versão do governo atual, tentei explicar o que havia acontecido”, contou.
No evento de ontem, Barbosa ainda criticou a condução do comércio exterior. Na visão do ex-embaixador, a política externa adotada nos últimos 13 anos levou ao isolamento do Brasil nas negociações comerciais e fez com que o País perdesse a voz no mundo, enquanto principal liderança na América Latina. Segundo Barbosa, no período, o governo, junto ao Mercosul, negociou cerca de quatro acordos, enquanto o restante do mundo teria firmado 400.
Sondagem realizada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) no início do mês mostrou que 80% dos empresários eram a favor do Brasil negociar internacionalmente independente do Mercosul, posição compartilhada pelo ex-embaixador. “A política do governo associada à Argentina de Cristina Kirchner era contra a negociação de acordos. Brigamos muito para que houvesse flexibilização para que o Brasil pudesse seguir negociando à parte, porque os empresários estavam reclamando muito que o governo deveria fazer acordos separados se o Mercosul não quisesse. Agora, com a mudança do governo na Argentina e aqui, todos querem fazer acordo, então você tem como flexibilizar”.
Sobre o governo do presidente da República interino Michel Temer, que assumiu o cargo no último dia 12 de maio, Barbosa evitou tecer comentários por julgar ser ainda muito cedo para qualquer espécie de avaliação. O ex-embaixador, no entanto, comentou as medidas anunciadas, ontem, pelo presidente interino para buscar a retomada do crescimento da economia brasileira. “Acho que estão na direção certa. Agora precisa ver se elas serão aprovadas no Congresso, como serão implementadas e que outras medidas serão tomadas”.
Entre as ações propostas por Temer estão a devolução de R$ 100 bilhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em recursos repassados pelo Tesouro Nacional; adoção de um teto para gastos públicos; extinção do fundo soberano; alteração nas regras para exploração do pré-sal; e suspensão de novos subsídios.
“Essas medidas vão na direção do saneamento da economia, da redução do gasto público. Esse saneamento vai permitir com que, gradualmente, volte o crescimento e se restabeleça o emprego porque, no fundo, o objetivo do governo é fazer o País crescer: dar emprego para a população e segurança jurídica para as empresas. As medidas vão nos permitir colocar a casa em ordem, porque do jeito que estava, a gente ia quebrar”.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG