Confecção de cama, mesa e banho tem demanda inesperada devido ao frio

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Especialista acredita que as fabricantes deverão melhorar seu planejamento para o inverno do ano que vem, em função de uma possível necessidade de reposição de estoques das varejistas

 

São Paulo - A forte queda de temperatura nas regiões Sul e Sudeste antes mesmo da chegada do inverno mudou os planos da indústria de cama, mesa e banho. O setor teve que adequar a produção para atender uma demanda inesperada do varejo, que chegou a liquidar estoques de coleções passadas.
 
De acordo com o diretor da consultoria Iemi - Inteligência de Mercado, Marcelo Prado, o inverno deste ano foi capaz de "fazer a roda girar" para toda a cadeia.
 
"O varejo ainda tinha estoques de 2014, mas precisou encomendar mais para a indústria que, em alguns casos, também tinha algo guardado. Então, apesar das dificuldades econômicas, isso foi bastante positivo", analisa Prado.
 
Ele explica que graças ao bom desempenho nas vendas desta temporada, varejistas já sentem mais confiança para aumentar seus estoques para as próximas coleções, incluindo o inverno de 2017.
 
Segundo o especialista, a expectativa para este ano é vender tudo o que estiver disponível em loja. "Com certeza haverá boas encomendas para o ano que vem. Ao contrário do que aconteceu do ano passado para este, não haverá estoque. Por isso esse frio que chegou antes e ainda deve durar mais [julho e agosto] foi tão positivo para esse setor", observa.
 
Um estudo do Iemi aponta para crescimento de 3,5% na produção de artigos para cama, mesa e banho em 2016, quando comparado ao ano passado. O setor pode confeccionar até 730.879 milhões de peças até o final de dezembro.
 
Capacidade
 
A Micheletto Confecções, empresa da região de Ibitinga (SP), atingiu seu limite máximo nos últimos tempos. De acordo com o proprietário empresa, William Micheletto, os pedidos de edredons, que representam um terço da sua produção total, cresceram 20% desde meados de maio. Em igual período do ano passado, a confecção operava com queda de 20% no segmento.
 
"Estou atendendo os clientes no meu limite. Pode ser que essa produção chegue a 12 mil peças, mas para fazer isso eu preciso realocar mão de obra, tirando foco de outros itens", afirma o empresário.
 
A Micheletto confecciona 30 mil peças por mês e atende varejistas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
 
Micheletto, que também é presidente do Sindicato das Indústrias e Comércio de Bordados de Ibitinga (Sindicobi), acrescenta que precisa aumentar a produção, "mas tem medo de contratar, produzir e, caso o frio não dure muito tempo, ser obrigado a demitir e ficar com estoque parado".
 
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone, explica que nos últimos anos o setor teve que trabalhar com poucos dias de inverno e a mudança brusca de temperatura surpreendeu.
 
"Algumas indústrias estavam com pouco estoque e tiveram que adequar a produção para atender às encomendas", disse ele, lembrando que, devido ao histórico de anos anteriores, existe uma preocupação em ampliar a atividade. "Estoque é custo e todo mundo estava com medo de confeccionar demais", destaca.
 
Cervone avalia, porém, que o frio antes da época "foi um alento" para o setor que vem sendo penalizado pelo fraco ritmo da economia doméstica.
 
A percepção do vice-presidente da Coteminas, Mário Sette, é a mesma. Segundo ele, a previsão do setor era muito mais comedida, mas as baixas temperaturas elevaram as apostas de que as vendas de inverno serão "positivas".
 
No caso da Coteminas, o executivo conta que não existe preocupação quanto a necessidade de elevar a capacidade em função da demanda extra, uma vez que a companhia tem condições de reagir rápido ao aumento das encomendas.
 
"Com certeza teremos bons resultados para a indústria, ainda mais em um ano de ajuste econômico", ressaltou o porta-voz da companhia que controla a Springs Global, dona das marcas MMartan, Artex, Santista e Casa Moysés.
 
No ano passado, a Springs Global registrou receita líquida de R$ 2,267 bilhões, alta de 8,4% sobre 2014, com margem bruta de 26,9% - a maior nos últimos cinco anos.
 
Exportações
 
Além do mercado interno, a Coteminas tem operação no exterior e é uma grande exportadora brasileira de têxteis. "É a Coteminas que dita o ritmo das exportações", avalia Marcelo Prado, Iemi.
 
Ele estima que este ano, os embarques brasileiros de artigos de cama, mesa e banho vão crescer 10,4%, chegando a 30.596 milhões de peças.
 
"É um setor que tem capacidade e tradição para vender para outros países por sua qualidade", destaca Prado. Na visão dele, uma melhora do quadro político-econômico pode contribuir para outras fabricantes se tornarem competitivas no exterior.
 
Veículo: DCI


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