Expectativas de avanço nas exportações e na demanda interna de aves, em substituição à carne bovina, não se confirmaram nas dimensões esperadas
São Paulo - "A queda contínua do consumo de carnes no mercado brasileiro associada aos elevados custos de produção industrial levou a Cooperativa Central Aurora Alimentos - 3º maior grupo nacional do setor - a suspender parcialmente as atividades de duas plantas industriais de aves", informou ontem a empresa ao justificar a redução de 13% no abate.
Em outubro, o Frigorífico Aurora Guatambu (Fag) entrará em regime parcial de férias para consolidar ajustes na incubação de ovos, alojamento de pintinhos, etc., disse a Aurora em nota. A partir de setembro, a unidade estará em funcionamento, porém, com queda de 50% no volume de abate, de 120 mil para 60 mil aves por dia.
A medida já havia sido aplicada no Frigorífico Abelardo Luz (Faal), onde 532 trabalhadores entraram em férias coletivas e retornarão amanhã (3), data em que outros 613 empregados sairão em férias. Lá, o abate diário passou de 134 mil para 70 mil frangos. As duas unidades paralisadas estão localizadas em Santa Catarina.
"Apesar dos preços inflados da carne bovina, a natural opção pelas demais carnes - especialmente aves e suínos - não está se manifestando em nível comercial significativo", explicam o presidente, Mário Lanznaster, o vice-presidente, Neivor Canton, e o diretor de agropecuária, Marcos Antonio Zordan, na nota. Segundo eles, "mesmo com o bom desempenho das exportações, o mercado doméstico está superofertado em todos os tipos de carnes". Em contrapartida, o recuo de 20% no preço do milho, verificado no último mês, não foi suficiente para baixar as despesas com ração.
"Ao natural, não [nos] estranha que as empresas tenham que efetivar uma redução na oferta", enfatiza o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, sobre as decisões tomadas pelas agroindústrias, diante do cenário de retração no consumo e elevação nos insumos, apresentado pela entidade ao setor.
Na Região Sul, o analista da consultoria Safras & Mercado, Fernando Iglesias, conta que há relatos de outras paralisações entre os produtores.
Mesmo com o mercado em crise, as expectativas de avanço nas vendas internacionais e de aumento na demanda interna de frango, em substituição à carne bovina, deram margem para que este segmento de proteína animal não reduzisse os níveis produtivos.
Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), consolidados pela Safras & Mercado, indicam que, no primeiro semestre, a produção de carne de frango avançou 4,06%, para 6,86 milhões de toneladas, quando comparada ao mesmo período de 2015.
"O crescimento na demanda veio, mas não nos níveis em que se esperava, por isso agora acontecem essas paralisações, que, muitas vezes, não são aplicadas no alojamento", comenta o especialista. Na avaliação dele, mesmo com o ajuste de oferta, é necessário que os preços subam ainda mais, para contemplar a alta nos desembolso, e os produtores precisariam reduzir o alojamento de pintinhos.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entre os meses de junho e julho, o valor médio do animal vivo superou 8% e o da carne ficou acima de 7%. Além dos insumos, "a menor oferta de animais contribuiu para impulsionar as cotações no setor avícola".
Com os recentes aumentos, os preços médios do frango vivo em São Paulo e em Minas Gerais são os maiores para um mês de julho desde 2009, em termos reais.
Com a disponibilidade de grãos na Argentina e Paraguai, Turra acredita que a crise não se estende até o fim de 2016.
Veículo: DCI