Planejamento. Fabricantes investem em produtos para adolescentes e adultos e nacionalização da cadeia para enfrentar o câmbio e a redução no poder de compra das famílias brasileiras
São Paulo - As fabricantes de brinquedos estão investindo também em produtos para adolescentes e adultos, além da nacionalização da cadeia, com o objetivo de minimizar o impacto do câmbio e da redução no poder de compra das famílias.
Mesmo assim, o segundo semestre, que normalmente é melhor que a primeira etapa de todos os anos devido a datas como Dia da Criança e Natal - que respondem por até 70% do faturamento da indústria - ainda será difícil para o setor, avalia o diretor da consultoria Gradatim, Marcelo Sinelli. "É preciso ter cautela com o senso comum de que o pior já passou. Acredito que precisaremos de até dois semestres para alcançar recuperação. Um cenário realmente positivo e com crescimento relevante deve demorar ainda mais", calcula.
O gerente da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo, ressalta que os baixos índices de produção do setor são coerentes com o momento econômico do País. "Além disso, é um setor marcado pela volatilidade em funções de datas comemorativas."
De acordo com a consultoria Euromonitor, a expectativa é que o mercado brasileiro de brinquedos e jogos, excluindo os videogames, registre um crescimento de 4,8% até 2020, enquanto as vendas globais devem aumentar perto de 15% no mesmo período.
Na opinião de Sinelli, essa previsão está relacionada a retração econômica no País. "Não voltaremos aos patamares de consumo vistos há quatro ou cinco anos tão rapidamente e isso afetará o setor. Também acredito que esse número tenha influência de dados demográficos, como índice de natalidade menor e o envelhecimento da população, além da concorrência com o ambiente digital", comenta o consultor.
Estratégias
As mudanças no estilo e hábitos da população levou a gigante Estrela a apostar também em opções para adolescentes e adultos, com temas como o programa Porta dos Fundos e do reality show MasterChef. A empresa também relançará jogos como Detetive e Banco Imobiliário em versões que contam com suporte de aplicativos de celular. Segundo o diretor de marketing da Estrela, Aires Fernandes, a meta este ano é aumentar em 10% o volume de vendas em relação a 2015.
"Estamos apostando nos lançamentos, na convergência de plataformas e no reforço da estratégia de marketing para atingir esse crescimento", diz Fernandes.
O executivo observa que os importados ficaram 40% mais caros em relação ao ano passado, o que deve garantir um espaço maior para itens fabricados no Brasil.
Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, esse aumento da participação dos nacionais em relação aos importados nas prateleiras deve crescer nos próximos anos. "A indústria tem trabalhado para trazer novidades e nossa meta é chegar a 2021 com 70% de participação no mercado", afirma o dirigente.
Para ele, além do encarecimento dos importados devido ao câmbio, essa mudança também tem relação com a qualidade dos produtos brasileiros, que muitas vezes supera os chineses, principais concorrentes dos nacionais.
O câmbio também levou a Sunny Brinquedos a nacionalizar sua produção de pelúcias no início deste ano, conforme o diretor executivo da fabricante, Gabriel Candi.
"Os produtos fabricados na China e o valor do frete estavam muito caros, então avaliamos que seria mais vantajoso produzir localmente. Há bastante demanda por pelúcia no Brasil, então ganhamos em qualidade e preço nesse tempo", destaca o diretor.
Candi explicou que a empresa estuda ainda a produção nacional de jogos e brinquedos, hoje importados. "Estamos analisando o mercado, mas não descartamos essa possibilidade. Como nunca havíamos feito produção nacional, tem sido um aprendizado", acrescento ao DCI.
De acordo com o diretor da Sunny, mesmo com a estratégia de redução de custos, a empresa teve um começo de ano difícil. Ele avalia que as vendas cresceram abaixo de 10% no primeiro semestre.
"Nossa estimativa é de um desempenho semelhante no segundo semestre. Nada indica que haverá um boom de vendas porque o varejo está encomendando menos", revela.
Licenciamentos
Já pensando no Natal, a Sunny vai lançar em novembro uma linha de pelúcias das Meninas Super Poderosas. A empresa já trabalha com itens da Disney Candi acredita que os licenciados podem render vendas melhores na última data importante do ano para o setor.
"Não será um ano de varejo estocado, então as lojas estão comprando apenas aquilo que há certeza de venda, como acontece com personagens de desenhos e filmes. São linhas de sucesso... Essa é nossa aposta para o período."
O consultor Marcelo Sinelli fala que os licenciados são uma receita garantida para as fabricantes de brinquedos em períodos de retração na demanda. "É uma receita de sucesso que pode ajudar a alavancar os números em um momento de crise econômica".
Nesse sentido, a Elka Brinquedos, uma das principais fabricantes nacionais de produtos para a primeira infância, está reforçando sua produção de Peppa Pig e Galinha Pintadinha. Os brinquedos baseados nos desenhos da porquinha cor-de-rosa e da galinha azul são quase unanimidade entre a criançada com idade entre zero e quatro anos.
Para o diretor comercial da empresa, Eduardo Kapaz Jr., além das personagens infantis, o quadro econômico vai colaborar este ano para garantir maior competitividade dos brinquedos da Elka frente àqueles trazidos do exterior.
"Alguns importadores diminuíram o volume e frequência de compras e isso favorece a Elka, garantindo maior espaço no mercado. Somos mais fortes nas linhas voltadas para crianças em idade pré-escolar e esse segmento ainda tem muita presença de importados no Brasil", avalia.
"A desvalorização do real frente ao dólar [de mais de 40% no ano passado] acabou gerando mais oportunidades nesse momento. Há mais espaço para o brinquedo nacional", aposta Kapaz Jr.
Fonte: DCI