Plantações de frutas e verduras são afetadas durante período de estiagem.
Acre vive período de seca histórica; 'trabalho é maior', diz produtor rural.
A seca histórica que atinge o Acre vem prejudicando não somente o sistema de abastecimento de água em Rio Branco, mas também os produtores rurais. Produções de banana, mamão, melancia e hortaliças são castigadas pela falta de chuvas, e alguns produtos já são vendidos com aumento na Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa), em Rio Branco.
O governo federal reconheceu a situação de emergência em nove cidades do estado devido às consequências da forte estiagem. A publicação está no Diário da União de quinta-feira (4). O governador do Acre, Tião Viana, havia assinado um decreto de situação de emergência no dia 7 de julho. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) no mesmo dia.
O atacadista Leonardo da Silva, de 22 anos, diz que foi um dos primeiros a aumentar o valor de algumas hortaliças. Ele conta que comprava um saco com 20 quilos de limão por valores que variavam de R$ 15 a R$ 18 no primeiro semestre deste ano, mas com a chegada do período de estiagem, o valor subiu para R$ 50. Para não perder os clientes, ele diz revender o produto por valores entre R$ 55 e R$ 60.
"São produtos retirados de produções que tem irrigação. Nessa época só produz quem tem irrigação própria, porque não tem chuva", relata Silva.
Outro fruto que teve aumento com a estiagem, segundo os comerciantes, foi o pepino. O vegetal era revendido para os atacadistas por R$ 25 e atualmente é repassado por R$ 50. Um aumento de 100%.
"Eu vendia abacaxi no começo do ano por R$ 3 e agora está R$ 7. Quase tudo aumenta o valor quando inicia o verão e esse ano aumentou mais por causa da falta de chuva", revela Samuel Silva, de 18 anos, atacadista na Ceasa.
Francisco Cláudio, de 41 anos, produz hortaliças, frutas e algumas raízes. O produtor revela que é necessário aumentar o preço de alguns produtos para valorizar a mercadoria. "Antes estavam vendendo algumas coisas por R$ 2 e agora ofereço por R$ 6. Não tem como manter o preço de antes", afirma.
Queda na produção
Produtor há 22 anos, Valdemir Teixeira, de 38 anos, relata que precisou optar em dar água para o gado ou regar as plantações. Teixeira é dono de uma propriedade, localizada no Projeto Orion, no km 5 do município de Acrelândiax, interior do Acre, e diz ter plantações de banana, mamão e pimenta. Ela revela que está vendendo apenas os produtos da safra anterior.
"Tem banana da produção anterior, mas desse verão não tem nada. Vamos tirando o que tem e vai se acabando. Só tem pimenta quem está regando. Não tenho mais mamão", lamenta o produtor.
Teixeira diz que possui um açude dentro da propriedade dele que abastece a casa, onde mora com a família, rega as plantações e serve para o gado. Com a falta de chuvas, o produtor diz que as águas do manancial já baixaram dois metros.
"O açude mede sete metros de profundidade, mas agora está com cinco metros. O gado bebe muita água nesse período, tenho que economizar", argumenta.
Situação semelhante enfrenta Cláudio, que diz regar as plantações com uma mangueira para não perder os produtos. A família do produtor mora no Ramal Belo Jardim e diz retira a água do rio para regar as produções.
"Se tivesse chuva, já estaria produzindo, mas não tem. O que estou vendendo agora é da plantação anterior. Comecei a mexer com roça também e fiz um plantio de mamão, mas preciso de água", detalha Cláudio.
Produtor desde criança, Cláudio fala que o local onde mora é herança familiar. Experiente, o homem revela que já vivenciou outras secas, mas nenhuma tão severa como essa. "Cresci aqui. Teve um ano que foi muito crítico também", relembra.
Previsão de aumento nos preços
Com a falta de plantações, o produtor explica que nos meses de setembro e outubro os reajustes devem ser ainda maiores devido a falta de produção nos meses anteriores. Para o homem, o período é visto como prejuízo nas vendas da mercadoria.
"Vai ter que aumentar o preço de tudo. O cacho de bananas que vendo por R$ 15 atualmente, vou ter que vender por R$ 30 ou até R$ 50. A palma de banana que hoje sai por R$ 2 vai ser vendida por até R$ 5", calcula Teixeira.
Falta de mercadoria
Se a seca tem prejudicado quem produz, os atacadistas também dizem sofrer com o período. Os comerciantes compram dos produtores e revendem por outro preço na Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa). É assim que Afonso Alves, de 42 anos, tira o sustento da família. Ele diz revender apenas melancias e lembra que o cenário era outro ano passado.
"Chegamos a descarregar até 10 mil melancias na Ceasa. Esse ano não consegui comprar nenhuma melancia da praia, só produzida nos roçados e regados pelos produtores. Os produtos já aumentaram em até 40%", conta Alves.
Enoque Menezes, de 56 anos, fala que compra mercadoria de produções em Boca do Acre, no Amazonas, em Sena Madureira e Acrelândia, interior do Acre, para garantir a revenda na capital acreana. "Nunca vi um período assim. Já senti o peso no bolso e os clientes também. Ano passado estava muito bom essa época", avalia.
Nível dos rios
Na manhã desta quinta-feira (4), a Defesa Civil informou que Assis Brasil está com 2,80 metros, Brasileia e Epitaciolândia com 1, 08 metro, Xapuri em 1,17 metro e Rio Branco em 1,41 metro.
Com a seca, o Rio Acre atingiu o nível mais baixo já registrado na história em Rio Branco, no dia 29 deste mês (1,49 m), desde 1971, ano em que o manancial começou a ser monitorado. A menor marca até então havia sido de 1,50 metro em setembro de 2011.
Captação de água
Em entrevista ao Bom Dia Amazônia na terça (2), o diretor-presidente do Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa), Edvaldo Magalhães, falou sobre as medidas que estão sendo tomadas
Após anunciar a ampliação da barragem feita para contenção na Estação de Tratamento de Água (ETA II), o diretor diz que a segunda medida a ser tomada pelo órgão deve ser o desligamento de uma das bombas de captação de água na torre. A barragem será ampliada em 12 metros para garantir que o volume de água captado pelas duas bombas seja mantido.
Quase um mês sem chuvas
De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, George Santos, não chove na capital acreana desde o dia 7 julho e a perspectiva é que a situação continue no mês de agosto. Em julho choveu apenas 5,6 milímetros, o que representa apenas 15% da média esperada, 32 milímetros.
O pesquisador Foster Brown afirmou, em matéria publicada no último dia 29, que além da ação humana, o período de estiagem se agravou pelos efeitos do El Niño, que resultou na pouca quantidade de chuva.
A Defesa Civil informou ainda que o nível do rio deve ficar abaixo de 1,25 metro até setembro. O major do Corpo de Bombeiros do Acre Cláudio Falcão revelou que o período de estiagem, que deveria encerrar em outubro, deve se prolongar até o mês de novembro. Falcão disse também que a previsão é de pouquíssima chuva para o período.
Fonte: Portal G1