Indicador apresentou alta de 4,11% em agosto e ficou no maior patamar desde 2013
Reflexo do cenário recessivo da economia, as dívidas em atraso continuam a se acumular entre os moradores da Capital. Em agosto, o indicador apresentou alta de 4,11% frente ao mesmo período do ano anterior, atingindo o maior patamar já registrado desde 2013 (-1,18%) para essa base de comparação. Até então, o número mais expressivo havia sido levantado em 2014 (3,93%). Os dados são do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH).
O aumento do desemprego é o principal fator para a expansão do número de débitos pendentes, segundo a economista da CDL-BH, Ana Paula Bastos. Sem uma fonte de renda, o consumidor acaba perdendo a capacidade de quitar os compromissos em dia. Aliado a isso, há as elevadas taxas de juros, que também se tornam um dificultador no processo por encarecer o custo das dívidas atrasadas.
Ana Paula avalia que os dados são preocupantes. Desde o fim do ano passado, não só o número de dívidas, como consequentemente a inadimplência, vem crescendo entre os belo-horizontinos. Segundo a especialista, o movimento já era para estar perdendo força ao longo de 2016, o que, no entanto, não tem acontecido. “Normalmente, a inadimplência tem períodos de picos e, ao longo do ano, vai arrefecendo. Mas, desde os últimos meses de 2015 até agora, ela vem em uma curva ascendente, o que retrata um cenário macroeconômico adverso”, explica a economista.
Na comparação com julho, as contas atrasadas apresentaram uma ligeira retração de 0,97% em agosto. O motivo para a queda estaria relacionado à injeção de capital na economia promovida pela antecipação da 1ª parcela do 13º salário a aposentados e pensionistas. Em julho, as dívidas pendentes haviam registrado alta de 0,62% frente ao mês anterior.
Apesar da redução no oitavo mês do ano, Ana Paula analisa que ela ainda não é um indício da recuperação do mercado. “As pessoas aproveitam qualquer renda extra para limpar o nome. Ninguém quer ficar endividado”, pontua.
Os consumidores com idade superior a 65 anos representaram a faixa etária com maior crescimento de dívidas em atraso (+28,19%) em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A razão para isso está nos altos custos com plano de saúde e medicamentos nesse grupo, além da redução da renda gerada com a aposentadoria. Entre os gêneros, destaque para o masculino, com alta de 4,22% no número de débitos pendentes no mesmo intervalo.
Inadimplência - E com o volume de dívidas em atraso cada vez maior, aumentou também a inadimplência (contas pendentes há mais de 90 dias). Em agosto, o indicador cresceu 4,34% frente ao mesmo período de 2015. Em compensação, na comparação com julho, o índice deu um pequeno alívio, ao retrair 0,87%.
Ana Paula entende que a redução das taxas de juros já traria alguma ajuda ao consumidor interessado em limpar o nome, mas destaca que somente com a geração de empregos a situação irá mudar. “Ninguém quer ser inadimplente. Quem está inadimplente é pela falta de condições de pagamento. A maioria da população é composta das classes C, D e E, que precisam de crédito para comprar bem de maior valor agregado. E se elas não estão recuperando esse crédito é porque realmente estão com a renda comprometida”, analisa.
Em agosto, a recuperação de crédito entre os belo-horizontinos caiu 1,03% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Frente a julho, o índice, no entanto, apresentou elevação de 1,02%. Anualmente, a CDL-BH costuma promover uma campanha de recuperação de crédito para ajudar os consumidores inadimplentes. A ação permite aos moradores da Capital negociar o pagamento de suas dívidas com descontos, limpando assim o seu nome. Este ano, no entanto, a entidade ainda não confirmou se haverá uma nova edição do evento.
Fonte: Jornal Diário do Comércio de Minas