Primeiro levantamento da Abiove para 2017 indica ligeira recuperação no faturamento de vendas internacionais do complexo soja, quebrando um ciclo de retrações vindo desde meados de 2014
São Paulo - É provável que nem o recorde nas principais colheitas do mundo nem cotações mais baixas sejam capazes de impedir a retomada no crescimento das divisas geradas com a exportação de soja brasileira e seus subprodutos, que chegarão competitivos em 2017.
O faturamento do líder na pauta de comércio exterior do País amargava uma trajetória de queda desde o recorde de 2014, de US$ 31,4 bilhões. Para o ano que vem, análise da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), divulgada ontem, projeta receita de US$ 25,9 bilhões para o complexo soja, ligeira alta de 0,6% contra os US$ 25,7 bilhões esperados para 2016.
Do total das divisas geradas, a soja em grão responde pela grande maioria do faturamento ou US$ 19,95 bilhões projetados para 2017. Os preços de exportação, no entanto, ficarão em US$ 350 por tonelada em média, ante US$ 370 neste ano.
Cenário
É difícil pensar em rendimento maior no momento em que o dólar, aliado do exportador, desacelera, mas para o analista chefe da AGR Brasil, Pedro Dejneka, "apesar de o câmbio não estar tão alto quanto já esteve, ele ainda encontra-se em patamares altamente favoráveis para a exportação brasileira".
Em meados de 2014, a moeda norte-americana chegou a R$ 2,20 no Brasil. Ontem, a cotação comercial fechou em R$ 3,25. O Banco Central informou nesta semana que, entre o final de 2016 e 2017, a taxa deve transitar entre R$ 3,28 e R$ 3,45, ainda favorável ao produtor.
"Se ele [agricultor] tiver soja, vai ser difícil para os Estados Unidos competir com o Brasil. A partir do final de fevereiro, os compradores vão buscar soja aí", diz o especialista da consultoria situada em Chicago.
Os americanos entram nesta temporada com produtividades extremas. Nas contas da AGR, a colheita da oleaginosa marca um volume médio de 115 milhões de toneladas. Relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado no último dia 12, considerava a produção de 114,34 milhões de toneladas para o grão no país, com produtividade de 3,4 toneladas por hectare.
Para a analista de mercado da consultoria AgRural, Daniele Siqueira, esperava-se até uma pressão maior sobre as cotações da Bolsa de Chicago em resposta à oferta.
Neste contexto, "só uma situação climática muito complicada para a América do Sul traria preços sustentados acima de US$ 10 por bushel", avalia Dejneka. Não que o índice não possa bater os US$ 10 eventualmente, mas o patamar previsto ainda fica na casa dos US$ 9 por bushel.
Por enquanto, o mercado se movimenta em um cenário baixista, que já se reflete nos indicadores nacionais. No consolidado da semana passada, o Indicador da soja Esalq/ BM&FBovespa, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no porto de Paranaguá (PR), caiu 2,07%, fechando a R$ 78,52 por saca de 60 quilos na sexta-feira (23).
"Essa pressão só seria reduzida quando o mercado estiver mais voltado para a América do Sul", comenta Daniele. E é para cá que os olhares se voltam a partir de dezembro.
Safra brasileira
Para o ano que vem, a produção nacional está projetada em 101,30 milhões de toneladas de soja em grão, um aumento de 4,9% em relação à atual estimativa de 96,60 milhões de toneladas em 2016, de acordo com a análise da Abiove.
A associação também projeta alta de 8,6% na exportação da oleaginosa em 2017, considerando que o volume crescerá de 52,50 milhões de toneladas em 2016 para 57 milhões de toneladas. Já o processamento deverá aumentar 1,7% em 2017, para 41 milhões.
Apesar de não ocupar a liderança no setor, a produção de óleo e farelo de soja também tem horizonte otimista.
Fonte: DCI