Femsa busca negócios que vão muito além do refrigerante

Leia em 5min

Engarrafadora da Coca-Cola quer trazer lojas de conveniência e farmácias ao país




MONTERREY (México) - Depois de desembolsar R$ 3,5 bilhões para ficar com a engarrafadora gaúcha Vonpar, em setembro passado, a mexicana Femsa, principal acionista da Coca-Cola Femsa, quer comprar mais empresas no país. Estão na mira farmácias, laticínios e engarrafadoras de bebidas não alcoólicas. A desvalorização do real frente ao dólar, nos últimos anos, tornou o Brasil “um paraíso para compras”, dizem executivos da empresa. A companhia também quer trazer ao país modelos de negócios com os quais já opera no México, como as lojas de conveniência Oxxo. A crise econômica preocupa, mas a aposta dos mexicanos no país é de longo prazo.

— A retração da economia brasileira nos preocupa, mas não nos assusta. Fazemos planos para o Brasil pensando nos próximos 25 anos, quando a situação da economia já terá melhorado — disse ao GLOBO o presidente do Conselho de Administração da Femsa, Jose Antonio Fernándes Carbajal, que afirmou que a empresa respeita a posição de cada governo, sem entrar no campo ideológico.

No ano passado, as vendas totais de bebidas da Coca-Cola Femsa no Brasil caíram 3% com a retração do consumo. Mesmo assim, o resultado não foi considerado ruim, diz Jose Ramón Martínez Alonso, diretor de Assuntos Corporativos da Coca-Cola Femsa, que nos últimos quatro anos esteve no Brasil dirigindo a operação brasileira.

— A crise econômica nos impactou proporcionalmente menos que a outros setores. E há segmentos em que atuamos, como o de sucos e de chás prontos, que ainda crescem 10% a 15% ao ano — disse o executivo.

A Coca-Cola Femsa também é dona de marcas de sucos como a Del Valle; de chás, como a Leão Fuze e da AdeS, bebida à base de soja, entre outros produtos.

Se no Brasil, a imagem da empresa está muito associada à Coca-Cola, nos outros dez países da América Latina onde está presente, além das Filipinas, a Femsa já é reconhecida por atuar em setores tão diversos quanto varejo, postos de gasolina, logística, plásticos e comida pronta. Tem fábricas de refrigeradores comerciais, uma delas na cidade de Itu, em São Paulo, e já planeja abrir a segunda unidade no Nordeste.


A Femsa é a segunda maior acionista da Heineken, com uma fatia de 20%. No México, a companhia possui 15 mil lojas de conveniência da marca Oxxo, que vendem de comida de gato a parafernálias eletrônicas. A cada dia, três lojas são abertas em território mexicano e dez milhões de transações são feitas diariamente. O modelo já chegou à Colômbia e ao Chile e pode chegar ao Brasil. A Femsa estreou, há pouco tempo, na Colômbia e no Chile, no ramo de farmácias.

— No Brasil, existem muitas oportunidades de aquisição de redes de farmácias regionais — disse o diretor de Relações com Investidores da Femsa, Gerardo Lozoya, sem detalhar quanto a empresa tem para investir e qual o prazo para realizar os negócios.

BRASIL SERÁ O MAIOR MERCADO

A estratégia de aquisições pela América Latina faz parte do dia a dia da empresa e agrada aos investidores. Em onze anos, o valor de mercado da Femsa, que tem ações na Bolsa de Nova York, saltou de US$ 8,6 bilhões para US$ 30,9 bilhões. Nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Bloomberg, a Femsa e sua unidade de engarrafamento, a Coca-Cola Femsa, fizeram ao menos 19 aquisições (sem contar a Vonpar) avaliadas em US$ 6,2 bilhões. A maior parte delas aconteceu na América Latina.

— Em nossas expansões, buscamos negócios em áreas que já atuamos. Não precisamos sair para setores distintos de bebidas, sucos, água, varejo. Dar um duplo salto mortal, diversificando em países e em produtos oferecidos, é muito mais perigoso — afirmou Carbajal.

Mesmo assim, no México, com a reforma energética promovida pelo governo que permitiu a grupos privados a participação na venda de gasolina, abriu-se uma nova frente de oportunidades para a Femsa. A empresa já tem mais de 300 postos de combustível no país e segue comprando outras unidades. Carbajal observa que a maioria não integra uma rede. Com isso, existe a possibilidade de consolidação no setor.
- Divulgação

Mas o negócio de bebidas seguirá como o motor da empresa, diz Jose Ramón. De volta ao México há pouco mais de 45 dias, ele participou das negociações da Vonpar e diz que a compra foi “a cereja do bolo” para a Coca-Cola Femsa no Brasil, que fincou sua bandeira no país há 17 anos. A negociação durou quatro meses e ainda deverá ser avaliada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que regula a concorrência no país. Quando for concluída, o Brasil será o maior mercado da companhia, com 80 milhões de consumidores, e 49% das operações da Coca-Cola no país. No México, onde a empresa nasceu, a Femsa tem 63 milhões de consumidores e 50% da operação da Coca.

— Entrar nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com a compra da Vonpar nos traz muitas sinergias, já que atuamos no Sudeste e no Mato Grosso do Sul. Poderemos rebalancear as malhas de distribuição. Ao menos 54% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são gerados no território em que estamos agora — afirma Jose Ramón Martínez Alonso, lembrando que, em três anos, a Femsa comprou a Spaipa, que atua no Paraná e em São Paulo, por US$ 1,86 bilhão, e a Cia. Fluminense de Refrigerantes, por US$ 448 milhões e ele não descarta novas compras.



A empresa já deu o primeiro passo no Brasil no setor de lácteos. Comprou, no fim do ano passado, a mineira Verde Campo, líder em produtos lácteos, como queijos e iogurtes, sem lactose e dona da marca Lacfree.

— A dúvida é se criamos uma marca potente ou compramos marcas regionalmente. Dá para crescer — resume Ramón.

*O repórter viajou a convite da Femsa




Veículo: O Globo - RJ


Veja também

No Paraná, produtores de soja seguem em ritmo acelerado

No Sul do País, produtores também estão atentos ao clima. No Paraná, segundo maior produtor ...

Veja mais
Varejista brasileiro desvia de lojas no México

Apesar de apresentar crescimento anual pela quinta vez consecutiva e novas tecnologias, o varejo mexicano não &ea...

Veja mais
Vendas externas de açúcar saltam 80% em setembro

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 3,188 milhões de toneladas de ...

Veja mais
Preços das frutas sobem 31,4% no ano

Em setembro, a oferta de frutas na Ceasa Minas, em Contagem, somou 54,97 mil toneladas, variação positiva ...

Veja mais
Dia das Crianças: especialistas alertam para os perigos do consumismo

Solução é usar a criatividade e buscar alternativas para que os pequenos compreendam os limites na ...

Veja mais
IPEA: desemprego e safra influenciam

Rio. Embora a inflação esteja mostrando mais resistência do que o estimado, o cenário para os...

Veja mais
Inmetro inicia a Operação Especial Dia das Crianças em todo o país

Objetivo é coibir a venda de produtos infantis irregulares RIO— O Instituto Nacional de Metrologia, Qualid...

Veja mais
Venda de celulares cresce 23,1% no 2º trimestre ante 1º trimestre, diz IDC

Foram vendidos 12,044 milhões de aparelhos, dos quais 10,779 milhões smartphones A venda de celulares no ...

Veja mais
Anvisa irá regulamentar rotulagem de lactose nos alimentos

Informação ajudará os consumidores com intolerância a selecionarem alimentos mais adequados ...

Veja mais