Municípios que têm os melhores saldos no Caged contam com embarques de manufaturados ou agricultura resiliente à crise; entretanto, desemprego segue em alta e saldo geral ainda é negativo
São Paulo - A exportação de manufaturados e o agronegócio levaram a geração de vagas a superar a eliminação de postos de trabalho em alguns municípios do Brasil neste ano. Em Franca, no interior de São Paulo, os embarques do setor calçadista permitiram que a cidade tivesse o melhor saldo do País. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, 6.217 posições foram acrescentadas ao mercado de trabalho local entre janeiro e setembro de 2016.
"O pico do dólar ajudou muitas empresas, especialmente no começo do ano", disse Deyvid Alves da Silveira, diretor de indústria, comércio e serviços de Franca. Ele ressaltou que outros ramos industriais, como o alimentício e o de produtos químicos, criaram vagas no período. Além da indústria de transformação, que teve saldo positivo de 5.583 postos, o setor de serviços também fortaleceu o mercado de Franca, com 1.460 empregos a mais em nove meses. "Esse movimento se deve à chegada de empresas de telemarketing à cidade", explicou Silveira.
Situação semelhante foi registrada em Nova Serrana, na região central de Minas Gerais. O quarto município que mais adicionou postos de trabalho (4.978) também contou com vendas para o exterior do setor calçadista. "São empresas de pequeno e médio porte, que fazem vendas internacionais especialmente para a Argentina, possibilitando essa melhora", comentou Maurício Lacerda, chefe de governo da cidade.
Agronegócio
Já em Cristalina, no leste de Goiás, foi o agronegócio que trouxe novos empregos. Com a entrada de 5.610 pessoas a mais no mercado, o município ficou na terceira posição entre aqueles com melhor diferença entre vagas criadas e destruídas neste ano. Carlos Alberto Sponchiado, secretário de desenvolvimento urbano, habitação e obras da cidade, contou que o cultivo na região é diversificado. As plantações de batata, tomate, cebola e algodão seriam as principais responsáveis por deixar o saldo da agropecuária no azul (3.772).
"Outra coisa que aconteceu foi que o produtor rural cresceu, virou empresário, e hoje aposta na cidade, investindo em restaurantes e hotéis, por exemplo", acrescentou o secretário de Cristalina. O setor de construção civil colocou 1.658 empregos no município entre janeiro e setembro de 2016. O mercado de trabalho de Juazeiro, na Bahia, também foi favorecido pelo agronegócio. Das 5.793 vagas que surgiram no município - o segundo melhor resultado no País - 2.349 vieram do setor.
Exceções
O professor de economia da Universidade de Brasília (UNB), Victor Gomes, porém, destacou que o desemprego segue com tendência de alta. "Algumas cidades conseguem resistir melhor à crise, mas são exceções", ponderou. Segundo ele, a "produtividade acima da média" do agronegócio permite que o setor viva uma realidade melhor do que aquela que é vista na maior parte do País.
Os números do Caged mostram que, em nove meses de 2016, a agricultura e a administração pública foram os únicos ramos econômicos com saldos de emprego no azul. O primeiro produziu 71.811 vagas, enquanto que o segundo trouxe 18.151 novos postos. Por outro lado, seguiu Gomes, a situação da indústria é "complicadíssima". "Existem raras ressalvas no setor e muitas delas estão relacionadas ao comércio exterior", disse. O professor indicou que o recente avanço do dólar pode favorecer os exportadores e gerar mais empregos no País. Entre janeiro e setembro, a indústria de transformação perdeu 136.422 vagas, o que colaborou para o resultado negativo registrado no País (-683.597) neste ano.
Fonte: DCI