Vantagens. Em um cenário em que as maiores do ramo têm menos disponibilidade de capital, a expansão para novos mercados pode se apoiar em um modelo que, hoje, só é usado pelo Dia
São Paulo - Com apenas um 'player' relevante atuando pelo formato no Brasil - o Dia -, o franchising ainda não ganhou força no setor de supermercados, apesar de amplamente disseminado em outros ramos do varejo. No entanto, com a maior importância dada pelos grandes grupos ao modelo de vizinhança, especialistas apontam que essas redes poderão adotar o sistema no curto prazo.
"Os minimercados são um primeiro passo para chegar no franchising. Sabemos que já existem estudos sendo feito nesse sentido, e eu acho que vai ser um movimento natural das grandes redes. É uma questão de tempo até elas enxergarem que é uma boa oportunidade", afirma a sócia-fundadora da consultoria especializada em negócios e franquias Grupo Bittencourt, Claudia Bittencourt.
Em linha com a previsão feita pela especialista, o CEO do Grupo Pão de Açúcar (GPA), Ronaldo Iabrudi - ao ser questionado sobre a possibilidade de adotar o modelo de franquias para suas lojas de vizinhança (o minimercado Extra e o Minuto Pão de Açúcar) -, disse, recentemente, que a empresa "está avaliando o assunto e deve aprofundar o tema, apesar de ainda não ter nada concreto."
Outra prova desse movimento foi a recente inauguração, por parte do grupo MGB (dono do supermercado Mambo e do Giga Atacado), de seu formato de vizinhança, o Petit Mambo. À época de seu lançamento, que aconteceu neste ano, a empresa afirmou que o objetivo com a bandeira era iniciar uma franquia. Hoje a rede já possui três unidades da loja de vizinhança. Procurada pela reportagem, a companhia não quis se manifestar sobre o assunto.
Assim como a sócia-fundadora do Grupo Bittencourt, o diretor de inteligência de mercado da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Claudio Tieghi, também afirma que a expansão por franquias é uma excelente estratégia para esse formato de negócios. "Para os minimercados a expansão por franquias seria ótima, porque esse modelo exige investimento menor, o que garante o interesse de um número maior de empresários. Nos grandes hipermercados e supermercados, por outro lado, o alto aporte necessário acaba inviabilizando o modelo de franchising", diz.
O executivo completa que a principal vantagem para as grandes redes ao adotar essa estratégia está ligada a maior agilidade no crescimento do negócio. "Para chegar a cidades de menor porte, por exemplo, ir por operação própria é muito mais oneroso e trabalhoso. Por franquia é mais rápido e é possível aproveitar o conhecimento que o franqueado já tem do mercado local, o que diminui o tempo de adaptação da rede àquela comunidade", explica.
Exemplo de sucesso
A maior agilidade que o sistema de franquias proporciona é justamente uma das principais vantagens relatadas pela rede de supermercados Dia. "Com certeza o modelo de franquias contribui para a rápida expansão da rede, já que nesse formato também existe uma grande dedicação do franqueado para o crescimento do negócio", afirma o diretor de franquias da empresa, Felipe Pagotto.
A rede espanhola, que chegou em 2001 no Brasil, possui hoje mais de 900 unidades, sendo que desse total 60% são franquias e o restante próprias. O executivo conta que este ano já foram inauguradas 150 lojas, e que para 2017 a intenção é manter o mesmo ritmo de lançamentos. Em relação ao faturamento, o grupo Dia apresentou, nos primeiros nove meses deste ano uma venda bruta de 7,8 bilhões de euros. A operação do Brasil, que tem uma participação de 17% do total, mostrou uma venda bruta, no mesmo período, de 1,3 bilhão de euros (alta de 6,8%, na moeda local, em relação ao mesmo período do ano passado).
Segundo Pagotto, um dos pontos que tem garantido o sucesso da operação - mesmo em meio a recessão econômica brasileira -, é o modelo de otimização de custos inspirado no chamado Soft Discount. "Temos lojas práticas e próximas à residência do consumidor. Os produtos são dispostos nas gôndolas em suas caixas de origem, o que gera economia de tempo na reposição das mercadorias e simplifica a operação. As entregas são centralizadas e ocorrem diariamente. Tudo isso ajuda na redução dos preços dos produtos, uma fórmula de sucesso, principalmente, em épocas de crise", conta o executivo.
Outro aspecto crucial para o sucesso da bandeira, segundo ele, é o forte investimento em produtos de marca própria, que hoje já representam 35% das vendas da rede e somam mais de 1.200 produtos . "Esperamos que a área registre crescimento na casa dos dois dígitos nos próximos anos", diz. De acordo com ele, o grupo faz um trabalho rigoroso de controle de qualidade dos fornecedores e dos produtos. "Junto com o preço baixo e o modelo de proximidade, tratamos a marca própria como um principais pilares da empresa", completa Pagotto.
Para Tieghi, da ABF, a rede é um exemplo de sucesso no País. "A impressão que temos como entidade é que o trabalho do Dia está concentrado em uma comunicação bastante direta, uma forte presença de marca e expansão estratégica", diz. Outro aspecto, segundo ele, é o fato da loja trabalhar com um ambiente fácil e com um foco grande no consumidor que quer economizar. "É uma experiência mais pragmática, com preço baixo, compra rápida e lojas de menor tamanho. Um formato que funciona muito bem para franquias", finaliza.
Claudia, do Grupo Bittencourt, aponta, por sua vez, que o principal ponto está ligado aos preços baixos. "É uma operação que se consolidou nas vizinhanças, nas periferias. E mesmo que os preços não sejam melhores em todos os produtos, isso ficou muito forte na cabeça do consumidor", afirma.
Fonte: DCI - São Paulo