Na contramão dos tempos de cortes na produção e freio nos investimentos, a sueca Ericsson inaugura hoje a ampliação de sua fábrica no Brasil, localizada em São José dos Campos (SP). Foram destinados R$ 15 milhões para a produção de infraestrutura de rede na telefonia celular, transmissão e sistemas ópticos.
"O Brasil é um dos 'dez mais' nos negócios da Ericsson", diz ao Valor o presidente global da companhia sueca, Carl-Henric Svanberg. A empresa atua em 175 países e aqui, em especial, as vendas vêm crescendo. A Ericsson tem contrato com a maioria das operadoras brasileiras e a produção local é exportada para países vizinhos latino-americanos.
Mesmo no exterior, Svanberg diz acreditar que o setor de telecomunicações será um dos menos impactados com a crise internacional. "Telefone hoje é uma necessidade. O tráfego continua crescendo e as operadoras em geral estão em boa situação financeira. Podem investir quando precisarem. Nosso setor será um dos menos afetados", diz.
Segundo Svanberg, apesar da alta penetração da telefonia celular, estamos apenas no começo de "uma nova era". Ele diz que a banda larga móvel, por exemplo, tem tudo para mudar a sociedade. "Temos 4 bilhões de telefones celulares no mundo. Mas o mercado de banda larga é ainda nascente. Cresce quatro a cinco vezes ano a ano, o que significa mais negócios, mais investimentos", afirma.
"Veja o presidente Lula. Ele quer levar a banda larga para todo o país, acabar com as áreas isoladas. Quer ter certeza que a internet é para todo mundo. As mudanças maiores serão no que se pode prover de serviços para a sociedade. No tratamento de saúde, na burocracia em geral, na educação. Em qualquer lugar poderemos acompanhar diferentes cursos, com os melhores professores, tudo pela rede (internet)", avalia.
O atual cenário de incerteza quanto ao desempenho da economia mundial, entretanto, levou a Ericsson, uma das líderes mundiais do setor, a preparar-se para os tempos de adversidade. No fim de janeiro, a empresa anunciou em sua sede, em Estocolmo, o corte de 6 mil postos de trabalho e uma queda nos lucros. Os dados de 2008 ainda não foram divulgados, mas as estimativas são de que no Brasil a empresa tenha faturado R$ 2 bilhões.
A evolução tecnológica, diz o executivo, teve um peso importante no corte de vagas. A Ericsson emprega 70 mil pessoas, sendo 20 mil na área de pesquisa e desenvolvimento. Svanberg explica que o aumento das soluções IP está causando uma transformação na infraestrutura das redes de telecomunicações. Baseados no protocolo da internet (em inglês, Internet Protocol ou IP), esses sistemas estão provocando uma substituição gradativa da rede de telefonia.
"São mudanças que estão acontecendo passo a passo. Com a tecnologia IP podemos reutilizar o equipamento para diferentes plataformas e há casos em que também o software", explica.
Independentemente de tecnologia e de crise, a concorrência acirrada dos fabricantes asiáticos mexe com o setor uma vez que estão jogando os preços para baixo. Para o executivo, cobrar mais barato faz parte dos esforços para conquistar mercado. Mas descarta que ameacem. Ele diz que a briga continua entre os tradicionais do setor: Ericsson, Alcatel Lucent e Nokia Siemens.
Acompanhado da presidente da Ericsson no Brasil, a engenheira Fátima Raimond, o executivo-chefe conversou com o Valor, sexta-feira, na Marina da Glória, no Rio, uma área de parada dos veleiros que participam da Volvo Ocean Race. A Ericsson concorre com barco próprio.
Svanberg também veio para comemorar os 85 anos da empresa no país, uma festa que contou com a presença da princesa Vitória, a primeira na sucessão do trono de seu país.
Mas a Ericsson chegou aqui antes disso. O fundador, Lars Magnus Ericsson, conheceu Dom Pedro II em 1876, em uma feira de tecnologia na Filadélfia (EUA), a mesma onde o imperador esteve com o inventor do telefone, Alexander Graham Bell. Ericsson veio ao país anos depois para entregar ao imperador sistemas de telefonia. Dom Pedro foi dono de um dos primeiros telefones residenciais do mundo. Fazia a comunicação do palácio de veraneio em Petrópolis com a residência imperial no Rio, em São Cristóvão.
Veículo: Valor Econômico