Lojistas buscam opções para driblar inadimplência em alta

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A adoção de ações como mais crédito rotativo, reparcelamento das dívidas, somado a um reajuste gradual de preços no momento do parcelamento, têm sido as saídas encontradas pelo varejo em tempos de crise, para contornar áreas como a inadimplência, indicador que começa a aumentar na baixa renda, maior consumidora do País e filão que aguçou ainda mais o apetite das redes ano passado, devido ao crescimento da massa salarial. Levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), porém, aponta de que o número de endividados nesta classe saltou de 32% para 59% de setembro passado para este ano, alarmando o mercado.

 

Na avaliação de Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), isso é atribuído basicamente às compras do final do ano. "Agora os consumidores começam a sentir a escassez de dinheiro, pois o 13º salário acabou e já é perceptível o reflexo do desemprego", diz. Ele pondera ainda que, nas grandes redes, a inadimplência será menor se comparada à dos bancos, visto que os consumidores são emotivos e por isso pagam as contas das lojas com que têm mais afinidade.

 

O especialista conta que outra saída é inflar o preço de determinados produtos. "Uma geladeira que custa R$ 1 mil será vendida por R$ 1,2 mil e as parcelas apresentam juros mais baixos", explica Dana. Outro fator que colabora para o aumento do índice de inadimplência é que muitas pessoas aparecem na estatística duas vezes, pois se a pessoa está inadimplente neste mês é muito provável que a situação se repita no mês seguinte. "É um movimento inercial. Imaginemos que parcela em 12 vezes: por um bom período ela não irá se endividar novamente."

 

A perspectiva do professor da FGV é que o mercado deverá ficar aquecido este final de ano porque os parcelamentos deverão cessar até este período, novamente com o pagamento do 13º salário. A opinião é compartilhada por Emilio Alfieri, economista da ACSP, principalmente se a taxa básica de juros (Selic) for reduzida.

 

"Até o momento, a crise de crédito não foi sentida pelo varejo e seu reflexo aparecerá em seis meses. A demanda de financiamento para a classe baixa foi abundante de 2004 até outubro do ano passado", observa Alfieri. O economista ressalta que esta faixa da população, considerada a nova classe média pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elevou o consumo de itens como motos, carros usados e eletrodomésticos.

 

Atualmente, o índice de inadimplência no Estado de São Paulo atinge 9,2% dos consumidores, enquanto no ano passado este indicador chegava a 7,6%. "Se não houver agravamento do desemprego e a inflação cair, o cenário poderá sinalizar alguma melhoria, mas isto é condicionado a uma série de senões", diz.

 

Cautela

 

De acordo com José Domingos Alves, novo supervisor-geral da Lojas Cem - que faturou 18% a mais ano passado, totalizando R$ 1,4 bilhão -, já antes da eclosão da crise financeira a companhia passou a ser mais comedida na concessão de crédito aos clientes, uma vez que a própria empresa financia as compras a prazo. "O índice de aprovação caiu 10% nos últimos meses", afirma Alves. Formada por 177 lojas distribuídas em quatro estados do sul e do sudeste, a rede, fundada pelo empresário Remigio Dalla Vecchia, possui taxa de inadimplência de 5%, tendo havido um aumento médio de 4% este ano nas parcelas com até 60 dias de atraso.

 

Voltada ao atendimento das classes C, D e E, com cerca de 70% das vendas via carnê, a Lojas Cem garante não ter alterado sua taxa de juros, fixada em 4,6% ao mês. "Não temos grandes preocupações e cremos que a inadimplência não aumentará muito neste semestre", finaliza Alves.

 

Com o aumento da inadimplência da baixa renda, que passou de 32% em setembro (quando a crise se agravou) para 59% mês passado, o varejo resolveu apertar o cerco para evitar rombos no caixa e adotou medidas preventivas, como maior rigor ao conceder linhas de crédito aos clientes, além de impulso ao crédito rotativo e reparcelamento das dívidas.

 

Segundo José Domingos Alves, supervisor da varejista paulista Lojas Cem, especializada em eletroeletrônicos e móveis e que faturou R$ 1,4 bilhão no ano passado, "o índice de aprovação de compras parceladas caiu 10% nos últimos meses e a inadimplência cresceu, chegando a 5%".

 

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Samy Dana, o maior endividamento dos consumidores em março pode ser atribuído às compras de final do ano e a gastos com o 13º. O especialista crê que a inadimplência no varejo está controlada. "A perspectiva é que o mercado ficará aquecido no final de ano, pois os parcelamentos deverão cessar até este período", afirmou Dana.

 

Também confiante está a administradora de centros de compras General Shopping Brasil, que prevê abrir seu primeiro mall no conceito de outlet até junho, em Itupeva, interior paulista.

 

Veículo: DCI


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