O aumento da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre o cigarro vai favorecer o crescimento da ilegalidade, afirmou o presidente da Souza Cruz, Dante Letti. O executivo não criticou a decisão do governo, que resultará em aumento entre 20% e 25% no valor do maço de cigarros, mas defendeu que a fiscalização seja mais forte para inibir a ação de contrabandistas.
"Entendo que alguns setores da economia caminharam melhor que outros, que o governo tenha lançado mão de aumentar impostos em alguns setores, para converter em ajuda para outros que não estão tão bem. Só esperamos que o nosso setor não seja o único a pagar a conta. A nossa parte da contribuição está feita, mas existe risco. Para que a arrecadação continue crescendo, o governo deve atuar fortemente no combate à ilegalidade, ao contrabando e à evasão fiscal", disse Letti.
Segundo o executivo, algumas atitudes tomadas pela Souza Cruz no ano passado, como investimento em logística e em produtos de alto valor agregado, podem ser o diferencial da companhia para enfrentar o cenário de turbulência internacional.
"Ao longo do ano passado, já entendendo que havia perspectiva de mudança no cenário internacional e decorrente contaminação de crise para o Brasil, nós fizemos fortes investimentos em marcas premium e melhoramos a distribuição. Esse dever de casa feito em 2008 nos coloca em situação muito competitiva em 2009. Grande parte dos investimentos já foram feitos e nosso portfólio está melhor preparado para enfrentar a crise", comentou.
O presidente da Souza Cruz acrescentou ainda que os investimentos em marcas premium continuarão a ser realizados neste ano, pois, na concepção da empresa, neste segmento os consumidores estão menos suscetíveis à queda de renda.
A participação de mercado da Souza Cruz, segundo Dante Letti, é de 62% sobre o consumo total no Brasil. Apesar da grande fatia, a companhia está preocupada, pois o comércio ilegal corresponde a cerca de 30% do mercado.
"Para nós, é interessante o equilíbrio entre o crescimento de participação de mercado e o aumento na rentabilidade. Esses fatores têm que caminhar juntos. Não vamos sacrificar nossa rentabilidade em função de crescimento apenas de participação."
Colaboração com governos. A companhia, disse o executivo, atua em conjunto com diversos níveis de governo por meio de sugestões para combater as vendas ilegais do setor. De acordo com Letti, a ação policial e as iniciativas cabem ao governo e a Souza Cruz contribui apenas com ideias.
"Observamos nos últimos meses aumento no nível de contrabando. Estamos preocupados. Se as autoridades, em especial a Polícia Federal, a Receita e os governos dos Estados, não se unirem no controle ao contrabando e às fronteiras, poderemos ver um aumento grande desse tipo de crime", afirmou o executivo.
A perspectiva para 2009 é de cenário econômico difícil, em que o desemprego tende a aumentar. Na avaliação de Letti, as diversas iniciativas tomadas pelo governo têm conseguido dar direcionamento coerente para aliviar os efeitos da crise e retomar o crescimento até o final do ano.
"Estamos em contexto difícil. Os trabalhadores estão perdendo o emprego e a rendar familiar está diminuindo. Paralelamente, há o aumento dos preços. Nosso setor deve ser afetado. Nossa expectativa de redução de consumo é da ordem de 6% ou 7%. Talvez nas vendas de 2009 o impacto seja menor, pois o aumento só começa a vigorar em abril, mas será uma redução significativa do nosso nível de vendas", disse o executivo.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ