Boeira criou uma logística para atender aos pedidos de consumidores
Em tempos de bolsos vazios, não há melhor forma de atrair consumidores do que prometendo preços mais baixos. É no que apostam as papelarias que tentam salvar o "Natal" do setor com a proximidade do início do ano letivo e o consequente aumento na demanda por material escolar. A estratégia é resposta, também, à crescente preocupação dos clientes com a pesquisa de preços dos itens das listas fornecidas pelas escolas. São justamente os pedidos de orçamentos, aliás, que respondem por grande parte do fluxo de clientes nas papelarias até agora.
Na unidade da Livraria Cervo do Centro de Porto Alegre, por exemplo, são encaminhadas de 15 a 20 listas por dia. "Criamos até uma logística própria para isso, de pegar uma cópia da lista e fazer o orçamento no fim do expediente, para conseguir atender", comenta o gerente da loja, Ben-Hur Boeira. O maior fluxo de compras, em janeiro, se concentra nos shoppings, que tem público mais voltado às escolas particulares e cujas aulas iniciam-se mais cedo. Já nas lojas de rua, o grande movimento é esperado para fevereiro e início de março, com o retorno das famílias das férias e o início das aulas na rede pública.
Para que as pesquisas se transformem em vendas, porém, é necessário que os preços correspondam às expectativas dos clientes - com reajustes abaixo, pelo menos, da inflação em relação ao ano passado. "Nos produtos básicos, ou o preço não mudou ou mudou muito pouco. O momento econômico está assim, não tem como fugir disso", justifica Boeira.
O sentimento é corroborado por Deoclides Rosset, gerente de uma unidade da Papelaria Brasil, também no Centro, que cita mochilas e cadernos como produtos em que os preços chegaram a baixar. A absorção do impacto, porém, não é apenas das lojas. "A queda é fruto de negociação com os fornecedores", garante o gerente, lembrando que o verão é o período de "colheita" de toda a cadeia. As duas lojas esperam crescimento nas vendas em relação a 2016 - no caso da Cervo, a previsão é de pelo menos 10% de alta.
Pesquisa do Procon da Capital em diversos estabelecimentos na primeira semana de janeiro encontrou vários itens até com deflação. "Não houve aumento exacerbado em itens de maior consumo. Comerciantes não repassaram os custos até porque os pais estão reaproveitando produtos do ano anterior", analisa o diretor executivo da entidade, Cauê Vieira. Ele lembra, porém, que os preços podem subir em fevereiro, com o aumento da demanda.
Guilherme Daroit
Fonte: Jornal do Comércio - Porto Alegre