Alimentos previamente cortados, descascados e higienizados se consolidam entre as demandas. Ao mesmo tempo, condições climáticas podem prejudicar a qualidade de legumes e verduras
São Paulo - Para garantir sua parcela de mercado, o produtor rural terá que se adequar às mudanças nos hábitos de consumo das famílias brasileiras. No caso do hortifrúti, tendências como alimentos de preparo facilitado e orgânicos despontam.
São os legumes que já chegam ao varejo cortados e descascados, verduras previamente higienizadas e tudo que otimize o tempo do trabalhador. "Pessoas que antes ficavam em casa, agora passam mais tempo fora procurando emprego ou já empregado para compor a renda familiar. Tem-se destinado cada vez menos tempo para o preparo da alimentação em casa", afirma o assessor técnico da Comissão Nacional de Fruticultura e da Comissão Nacional de Hortaliças e Flores da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Eduardo Brandão.
Considerando que cerca de 80% do hortifrúti é adquirido nos supermercados, no quesito praticidade o setor concorre com opções industrializadas como os congelados. Diante de uma possibilidade inerente de perda de participação na demanda, a CNA está em busca de parceiros para lançar, ainda neste ano, um programa nacional de fomento ao consumo de frutas, legumes e verduras. "Temos uma certa preocupação porque o produtor tem que estar atento a essa tendência. É aí que nós entramos com a capacitação", comenta o executivo.
No ano passado, seca no Nordeste e excesso de chuvas no Sul e Sudeste, crise econômica e juros elevados inibindo investimentos, entre outros aspectos, prejudicaram a oferta de hortifrutícolas ao longo dos meses. Mesmo assim, os preços dos mais de 150 produtos acompanhados pelo índice da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) encerraram o ano com aumentos abaixo da inflação em razão, principalmente, da diminuição no consumo. Em doze meses, os segmentos de legumes, verduras e diversos (cebola, batata, amendoim, coco seco e ovos) acumularam quedas respectivas de 14,78%, 26,7% e 3,69%. Por considerar os pescados, cujas cotações avançaram 21,27% no período, apoiado pelas frutas que tiveram ganho de 9,04%, a média do indicador conseguiu se sustentar no azul e subir 3,56%.
O economista da Ceagesp, Flávio Luis Godas, explica que houve diminuição de renda na população, ocasionada pelo desemprego, fator que gera níveis de insegurança que se estendem do produtor aos demais elos da cadeia - daí a necessidade de caminhar na mesma linha que as demandas do consumidor. "Existe a questão da facilidade e também há mais pessoas morando sozinhas. O varejo aposta em embalagens menores voltadas para esta categoria", destaca o especialista.
Outra tendência é a crescente demanda por alimentos mais saudáveis que abre precedentes para o avanço dos orgânicos. Antes, estes produtos eram consumidos apenas por pessoas de maior poder aquisitivo mas, segundo o executivo da CNA, a popularização do conceito de bem estar, apoiado pela exposição na mídia, por exemplo, fomentou o setor.
Pelo menos 50% dos brasileiros são obesos ou estão entre as três categorias do índice de massa corporal (IMC) que configuram sobrepeso. "Quando se pensa em fazer dieta, automaticamente o que vem à cabeça é comer verduras e legumes. Isso favorece a cadeia", lembra Brandão. De maneira geral, para 2017 a expectativa é promissora para o hortifrúti. A estabilidade da economia pode colaborar no aquecimento da demanda. No curto prazo, as chuvas de verão são prejudiciais para a qualidade dos produtos, principalmente, raízes. Na avaliação do economista da Ceagesp, o cenário traçado até meados de março é de ligeiro aumento de preços para legumes e verduras, em função de ajuste na oferta.
Foco em qualidade
No Mato Grosso do Sul, um sistema integrado tem trazido êxito ao agricultor hortigranjeiro. O programa Hortifruti Legal, promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ MS), atende cerca de 400 produtores com a metodologia de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), acompanhando todo o processo produtivo com foco em qualidade e garantia de venda.
Agentes de comercialização fazem análises do mercado regional e identificam potenciais compradores. Em seguida, as informações são levadas ao setor produtivo e os alimentos são cultivados nas variedades e especificações exatas para o consumo final.
"Em 2016, tínhamos a expectativa de faturar R$ 2 milhões com a venda dos produtos provenientes do programa, mas atingimos R$ 3 milhões", conta a gestora do departamento de assistência técnica e gerencial do Senar/MS, Mariana Gilberti Urt. Para este ano, a expectativa é chegar a 450 agricultores atendidos com receita de R$ 4 a R$ 4,5 milhões.
A maior parte dos produtores são de pequeno porte e atuam no cultivo de legumes e verduras, em 21 municípios do estado onde o projeto existe desde 2014. "No segmento de frutas, somos procurados por agricultores médios e grandes, que precisam ganhar em escala", acrescenta a executiva. O destaque mais rentável ao setor no ano passado foi o plantio de repolho consorciado a outras atividades como a pecuária leiteira.
Nayara Figueiredo
Fonte: DCI -São Paulo