Você já deixou de consumir algo por não conseguir estacionar o carro próximo do comércio ou por não ter ânimo para enfrentar o transporte público e chegar até a loja? Esse tipo de comportamento, ligado à mobilidade urbana, está impactando de maneira negativa o varejo de Belo Horizonte, segundo apontou pesquisa realizada pela primeira vez pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG). O estudo mostrou que as restrições à mobilidade causam algum tipo de dificuldade para 45,5% do comércio da cidade. Para a grande maioria dos empresários - 89% -, o que vem provocando esse problema é o trânsito ruim.
"Os deslocamentos são determinantes para a escolha do local de compra do consumidor. Se tenho condições de trânsito inadequadas, há impacto negativo no varejo. Esse foi o motivador da pesquisa", disse o economista da Fecomércio, Guilherme Almeida. Foram feitas duas pesquisas: Mobilidade Urbana: Opinião do Empresário; e Mobilidade Urbana: Opinião do Consumidor. Além do trânsito ruim, os empresários citaram como geradores de impacto (muito ou pouco) no comércio o custo do estacionamento (81,1%); disponibilidade de transporte público (83,4%); a dificuldade de carga e descarga impacta (78,9%); falta de via exclusiva para o transporte público, (65,8%); cobrança do rotativo (56%).
A pesquisa apontou ainda que 60% dos empresários estão insatisfeitos com o trânsito de Belo Horizonte, sendo que 30,8% o avaliaram como péssimo e 29,2% como ruim. Outros 33,4% consideram o trânsito regular. Apenas 6,6% afirmaram que o trânsito na cidade é bom. Ninguém o considerou ótimo. "Para o empresariado, as condições de trânsito estão influenciando negativamente no ambiente de negócios. Vias sucateadas, condições impróprias do transporte público, alto custo do estacionamento e a dificuldade de carga e descarga de mercadorias foram alguns pontos citados", citou o economista Guilherme Almeida.
Estacionamento - Funcionária de uma loja de calçados localizada na rua Sergipe, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte, Priscila da Silva Quirino diz que é frequente os clientes reclamarem da falta de vagas para estacionar o carro na rua. Há também aqueles que se queixam do alto valor cobrado nos estacionamentos. "Tem gente que fala que vem até a loja só porque é freguês e sabe que só vai encontrar determinado produto aqui", diz. O comerciante José Otto Temporão, proprietário da Lullo Gelato, sorveteria na Praça da Savassi, diz que não sofre tanto o impacto do trânsito porque o movimento maior é sábado e domingo, quando há mais vagas disponíveis de estacionamento. A sorveteria também é muito frequentada por quem já está na Savassi para trabalhar ou passear. "Mas é claro que se houvesse maior oferta de vagas, as vendas também melhorariam", diz.
Caminhões - Quanto à restrição da circulação de caminhões na cidade, 35,8% dos empresários avaliam a medida como positiva para o tráfego, 33,3% não se posicionaram e os demais (30,9%) a consideram negativa. Para a maioria dos empresários (73,8%), essas restrições impactam no preço do frete cobrado. Outro item pesquisado foi o recente aumento das tarifas dos transportes públicos. Dos entrevistados, 42% responderam ter sentido impacto quanto a esta questão na matriz de custos do estabelecimento, sendo que, em 37,7% dos casos, houve redução do quadro de funcionários. Foram citadas também a redução no volume de vendas (15,5%) e a queda no movimento de clientes (12,1%). Segundo Almeida, o próximo passo é levar os resultados da pesquisa a comitês que reúnem entidades e poder público. Esses grupos podem trabalhar em busca de soluções para as questões levantadas. A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) foi procurada e informou que só teria de condições de responder à reportagem hoje.
Fonte:Diário do Comércio de Minas