São Paulo - Para descolar a Black Friday do Natal e garantir que a data não 'roube' as vendas de dezembro, entidades do varejo físico estão articulando mudar o evento promocional para setembro. A ideia, contudo, enfrenta resistência do comércio eletrônico, que entende que a modificação seria extremamente prejudicial ao setor.
As discussões, encabeçadas pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), e Associação Brasileira de Franchising (ABF), iniciaram há cerca de três meses. De lá para cá, foram realizadas três reuniões para debater o tema - com a presença de 45 empresários -, e mais uma deve ocorrer ainda nos próximos meses. Pela proximidade da Black Friday deste ano, a intenção é que a mudança só passe a valer a partir do ano que vem.
O principal benefício da modificação, de acordo com o diretor institucional da Alshop, Luis Augusto da Silva, está relacionado ao distanciamento maior com o Natal. "Quem compra com desconto no final de novembro está antecipando às compras do Natal. O resultado disso é que as vendas de dezembro tem um volume muito menor". O impacto foi sentido no ano passado e em 2015, quando, segundo ele, a Black Friday 'roubou' as vendas do Natal.
O problema disso é que as vendas da data promocional, celebrada mundialmente na última sexta-feira de novembro, possuem uma margem consideravelmente menor, já que são feitas com descontos altos. A antecipação das compras do Natal, portanto, gera um impacto grande na lucratividade dos varejistas. "Fazer a Black Friday em novembro é queimar margens em um momento em que não é necessário, já que o consumidor iria comprar de qualquer forma. Se for para queimar margem é mais interessante que isso ocorra em um mês em que o brasileiro não tenderia a consumir, como setembro", acrescenta o diretor internacional da ABF, André Friedheim.
Outro problema da celebração ocorrer em novembro, para o presidente da Chilli Beans, Caito Maia, é que a data faz com que o consumidor entre em dezembro com a 'cabeça de desconto', esperando que as varejistas continuem oferecendo promoções nas vendas. "O Black Friday destruiu os dois últimos Natais no Brasil", diz.
Comércio eletrônico
Pelo menos um dos participantes das reuniões, no entanto, não compartilha da visão das três entidades e da Chilli Beans. A Câmara Brasileira do Comércio Eletrônico (camara-e.net), entidade cujos associados representam cerca de 90% do faturamento do e-commerce, defende a manutenção da Black Friday em novembro. A mudança, na visão da associação, poderia ser extremamente prejudicial para as vendas da data promocional.
"É um evento mundial, e a mudança com certeza iria impactar no resultado", afirma o diretor de comunicação da camara-e.net, Gerson Rolim. A percepção se dá por dois fatores: primeiro porque a data ficaria deslocada do restante do mundo, perdendo o marketing global que se faz em torno do evento; e segundo, porque se perderia o fator conjuntural do décimo terceiro salário em mãos. "Não existe nenhum país do mundo onde a Black Friday ocorra em um dia diferente", diz. A visão é compartilhada pelo site Buscapé, que afirmou, por meio de nota, que a intenção de mudar a data é exclusiva do varejo físico.
Em relação ao impacto da data promocional no resultado do Natal, Rolim afirma que é preciso analisar o quanto disso não se dá por uma questão conjuntural. "Será que o resultado fraco do Natal não é por conta da crise?", questiona. "E se olharmos o quadro maior, a Black Friday é muito boa, porque mesmo na recessão ela está 'bombado' no Brasil", diz.
A entidade afirma que está aberta a participar das próximas reuniões, mas que o tema foi levado ao conselho da camara-e.net e a decisão já foi tomada. "A Black Friday foi trazida pelo e-commerce e, independente do varejo físico mudar, vamos continuar fazendo em novembro", conclui.
Fonte: DCI São Paulo