São Paulo - Os investimentos produtivos cresceram 1,4% em junho no Brasil, em relação a maio, após terem registrado dois meses de estabilidade, mostra o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), divulgado ontem.
Esta gradual recuperação tem sido puxada pelo setor de máquinas e equipamentos que, segundo o economista do Ipea, Leonardo Mello, vem apresentando um crescimento disseminado entre os diversos subsegmentos, com destaque para os aportes em bens de transporte.
Apesar da alta em junho, o segundo trimestre encerrou com uma queda de 1,3% ante o trimestre imediatamente anterior (na margem), pressionado pela contração de 3,2% da construção civil.
Já o consumo aparente de máquinas e equipamentos (Came) - cuja estimativa corresponde à produção doméstica acrescida das importações e excluídas as exportações - avançou 4% no segundo trimestre, e 4,1% somente no mês de junho.
Mello reforça que a trajetória de retomada dos investimentos se dará de forma muito lenta, principalmente por conta da construção civil, e que a expectativa para este ano é ainda de retração dos investimentos (-1,9%). Porém, o Ipea prevê alta de 3,3% no próximo ano.
Segundo o economista, a notícia positiva é que a recuperação do Came está ocorrendo de "forma espalhada", alcançando não somente as máquinas agrícolas, como também os bens de capital para fins industriais. "Porém, quem contribuiu com o maior percentual no segundo trimestre foi o setor de transportes, que engloba, por exemplo, caminhões e ônibus", diz Mello.
O economista destaca, inclusive, que os transportes possuem muito mais peso na formação do indicador do FBCF do que os investimentos em equipamentos agrícolas, por exemplo. Segundo o Ipea, o Came vem avançando, na margem, desde abril, quando registrou elevação de 0,8%. Já em maio, este cresceu 3%.
Fatores positivos
Para Mello, o processo de desinflação e cortes na taxa básica de juros (Selic) são alguns dos fatores que estão contribuindo positivamente para a recuperação gradual dos aportes produtivos na economia.
"Nós não podemos dizer, contudo, que há uma tendência de crescimento mais adiante. A economia ainda enfrenta uma série de restrições, como o ambiente político conturbado e elevado nível de desemprego", pondera o especialista. "A desocupação tem sido um limitador importante da retomada da atividade", diz ele.
Segundo projeção da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), divulgada ontem, o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e riquezas produzidos em um país) do Brasil crescerá apenas 0,4% este ano.
Mello ressalta que os resultados positivos dos investimentos em máquinas e equipamentos também se explicam pela base de comparação muito baixa. "A crise foi tão severa que algumas empresas suspenderam até os gastos com a manutenção de equipamentos", comenta ele.
Recomposição
O economista do Ipea pontua que os investimentos que estão sendo realizado são referentes tanto à reparação de máquinas, como a compras de novos equipamentos.
O indicador de construção civil, por sua vez, após ter registrado três variações negativas, cresceu 1,8% em junho sobre o mês anterior. Este resultado, no entanto, não evitou a queda de 3,2% no segundo trimestre. Já na comparação contra o segundo trimestre do ano anterior, enquanto a construção registrou queda de 6,4%, o Came caiu 17,6% sobre o mês de junho de 2016.
Ainda na comparação interanual, o Ipea destaca que parte da queda verificada no setor de máquinas e equipamentos é explicada por uma elevada base de comparação, uma vez que o volume importado de bens de capital havia registrado forte alta em junho de 2016. Segundo Mello, a recuperação da construção civil irá depender muito do ritmo de andamento dos projetos federais na área de infraestrutura.
Fonte: DCI São Paulo