São Paulo - A retração de 5,57% nas vendas do primeiro semestre, em termos reais, levou a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) a reduzir a projeção para o ano, que passou de uma alta de 1% para uma queda de até 2,5%. O setor já vem de dois anos consecutivos de resultados fracos.
Divulgados ontem, os dados do acumulado de janeiro a junho ficaram abaixo das expectativas da entidade, que previa uma continuidade da melhora vista em maio. "O desempenho do acumulado ficou abaixo do esperado. Nosso mercado depende de renda, e como o desemprego ainda não está reduzindo é difícil ter um bom resultado", justificou o presidente da Abad, Emerson Luiz Destro. Ele apontou ainda que a migração do consumidor para produtos de menor valor (o chamado down grade) foi outro fator que prejudicou o resultado do ramo no período.
De acordo com ele, os dados de maio (quando o setor avançou 0,84%, na comparação interanual), tinham levado a associação a uma projeção mais otimista para o ano. O resultado de junho, no entanto, frustrou os ânimos dos empresários. "Vimos, infelizmente, que maio foi apenas um ponto fora da curva", diz.
O faturamento do setor atacadista retraiu mais de 7% em junho, em termos reais, na comparação com o mesmo mês de 2016. Em relação a maio a queda foi de 4,26%. Em termos nominais (sem descontar os efeitos da inflação), também houve retração nas três bases comparativas: de 1,57% de janeiro a junho; de 4,3%, frente junho de 2016; e de 4,48%, em relação a maio.
Retomada
Responsável por 53,7% de toda a distribuição de alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e do lar no Brasil, o ramo atacadista vende majoritariamente para pequenos e médios varejistas. As empresas do setor dependem, portanto, da retomada do consumo desses comerciantes para apresentarem resultados mais fortes.
Essa retomada deve começar a ocorrer, segundo a Abad, já no segundo semestre, uma vez que alguns indicadores da economia estão melhorando.
O presidente da associação cita como exemplo a queda dos juros e da inflação, e a reforma trabalhista, que deve entrar em vigor em novembro. "Tudo isso traz um nível maior de confiança para o comerciante, o que deve ajudar nas vendas daqui para frente", diz. O executivo conta ainda que tradicionalmente o segundo semestre tem um peso maior no faturamento do setor atacadista e distribuidor, de 55%.
Em linha com a projeção de uma retomada da compra de mercadorias pelos varejistas, estudo divulgado pelo Serasa Experian aponta para um crescimento da procura do varejo por crédito junto ao atacado. De acordo com o levantamento, feito em cima das consultas ao banco de dados do Serasa, a procura dos varejistas por crédito cresceu 5,5% no primeiro semestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Em 2016, o setor viu um recuo de 13,8% no indicador.
"Embora ainda não tenha impactado nos resultados, a maior procura dos comerciantes por crédito sinaliza para uma tendência de que o varejo compre mais no segundo semestre", diz o diretor institucional do Serasa, Paulo Melo.
Ele explica que o crédito do atacado ao varejo é concedido na forma de um aumento nos prazos de pagamentos e que praticamente 90% das vendas dos atacadistas e distribuidores ocorrem dessa maneira.
Outro indicador favorável para os atacadistas, segundo o Serasa, é a diminuição da inadimplência dos varejistas. De janeiro a junho deste ano, o indicador recuou 7,2%, frente igual período do ano passado.
Alta do combustível
Apesar dos sinais positivos para os próximos meses do ano, um aspecto que deve impactar a operação das companhias do setor é o aumento do preço dos combustíveis, anunciado no mês passado. De acordo com Destro, o frete representa aproximadamente 1/3 de todo o custo do negócio. "É algo muito negativo para nós", diz.
O presidente da Abad explica que o prejuízo deve ocorrer de duas formas: na perda da rentabilidade das companhias, que serão obrigadas a absorver uma parte do aumento, sacrificando suas margens; e na alta dos preços dos produtos.
Fonte: DCI São Paulo