Esta semana será decisiva para os produtores de trigo do Sul do País. A chuva prevista para os próximos dias poderá amenizar as perdas na produção, que já passam de 6% apenas no Paraná.
"A quebra na produção será de, no mínimo, 6%", afirma o agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), Carlos Hugo Wrinckler Godinho. "Vamos ver se a chuva que está prevista para esta semana consegue fazer com que esse prejuízo não seja tão grande", afirmou.
O Estado cultivou 956 mil hectares com o cereal neste ano, abaixo dos 1,1 milhão de hectares cultivados na safra passada e deve produzir 2,8 milhões de toneladas, já considerando a retração de 6%. "Se não chover essa queda será ainda maior", afirma o agrônomo do Deral.
Ele explica que o trigo não é uma cultura que precisa de muita água, no entanto, é fundamental que o solo esteja úmido para o enchimento de grãos. Até a última sexta-feira (4), 30% da área estava em floração e 25% em frutificação.
"São as etapas que mais precisam de água no solo", salienta Godinho. Por isso é preocupante que o Estado tenha regiões em que a estiagem já dura 40 dias e nas quais foram registrados somente pequenos volumes de precipitação nos últimos dias.
Essa queda esperada para a produção do Estado também é resultado de geadas ocorridas em julho. Apenas a região norte do Paraná esse tipo de problema não foi registrado e a colheita teve início. No entanto, a área em que os trabalhos já iniciaram ainda não representa 1% do total cultivado.
Os preços são outra fonte de preocupação para os triticultores do Estado. Na média de julho, a saca de 60 quilos foi cotada a R$ 35,11, recuo de 23% em relação ao mesmo mês do ano passado. "É importante lembrar que em 2016 a procura por trigo aumentou em razão da falta de milho no mercado", observa o agrônomo.
Ainda assim, os valores praticados estão abaixo do preço mínimo fixado pelo governo federal para a safra 2017 em R$ 37,26 a saca de 60 quilos. O valor, que no ciclo passado foi de R$ 38,65, foi reduzido para acompanhar a queda de custos de produção da cultura. "No entanto caíram em uma proporção muito maior", pondera Godinho. Ele afirma que a falta de interesse em intervenções recentes feitas pelo governo para garantir o recebimento do valor mínimo inibe novas tentativas de apoio.
Produção gaúcha
No Rio Grande do Sul, a falta de chuvas já dura 50 dias e o déficit hídrico é de 150 milímetros, diz o assistente técnico regional da Emater/RS, órgão de assistência técnica do governo gaúcho, Cláudio Doro.
"Como o trigo ainda está em crescimento não é possível estimar as perdas, mas a estiagem roubou muito do potencial produtivo da cultura", pontua Doro. Este ano foram cultivados 727 mil hectares, 16,4% a menos do que em 2016. A produção está estimada em 1 milhão de toneladas, 60% a menos que no ciclo passado, quando a produção foi de 2,5 milhões de toneladas. Caso não chova com abundância nos próximos dias, as perdas poderão ser irreversíveis, diz a Emater/RS em seu Informativo Conjuntural.
Os mesmos fatores prejudicam a área cultivada com Canola. As lavouras implantadas em maio sofreram danos com as geadas, como queimaduras nas sílicas e abortamento de grãos. "A cultura é muito mais susceptível ao clima e as perdas já não podem ser recuperadas", diz Doro. Muitos produtores já buscam o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que auxilia produtores com perdas causadas por fatores climáticos.
Fonte: DCI São Paulo