São Paulo - O consumo das famílias será a grande alavanca da economia em 2018 e irá responder por quase a totalidade do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de cerca de 3%, esperado para o ano. Com base nesse cenário, crescem as apostas em ações ligadas ao setor, em especial varejistas, que ainda têm grande potencial de valorização.
Maior confiança dos consumidores, juros em patamares mais baixos, aumento da renda e melhora, mesmo que lenta, do mercado de trabalho contribuem para que os consumidores voltem a gastar. E, com a perspectiva de crescimento, os bancos também ficam mais confortáveis em conceder crédito, o que favorece a venda de produtos de maior valor.
Sandra Peres, analista-chefe da corretora Coinvalores, lembra que, após dois anos de consumo fraco, a demanda reprimida fará com que mais empresas consigam aumentar as suas vendas, melhorando seus resultados, o que se reflete na perspectiva de valorização das ações.
— As pessoas estão mais propensas a consumir, e as empresas também estão melhores. As companhias fizeram ajustes nos dois últimos anos e estão com custos e dívidas menores. Com a casa arrumada e a economia em crescimento, devem apresentar números melhores — explica Sandra, ressaltando que o fator de atenção para o setor, e para a economia de forma geral, será a corrida presidencial.
A analista lembra que dois fatores determinam a demanda pelo consumo. O primeiro é o conjunto de renda e emprego, que vem melhorando de forma gradual. O segundo é o crédito, que tem poder de ação mais rápido e favorece a venda de produtos de maior valor, como eletrônicos e eletrodomésticos.
Por isso, as empresas que atuam nesse setor estão entre as favoritas — ainda no ano passado, as ações do Magazine Luiza lideraram os ganhos do Ibovespa, com alta superior a 300%. A empresa deve continuar a apresentar bons resultados, mas outras varejistas estão com potencial de valorização maior. Uma das indicações da Coinvalores são os papéis das Lojas Americanas. A expectativa é que o valor da ação chegue a R$ 21 em até 12 meses, um alta de 31,5%. Para as Lojas Renner, a projeção é que o papel atinja R$ 40 em fevereiro do ano que vem, o que representaria um ganho de 15,6%.
De alimentos a têxteis
O varejo de alimentos também deve ser beneficiado pelo cenário econômico. Carlos Soares, analista da corretora Magliano, lembra que, no ano passado, a margem dos supermercados ficou menor devido à supersafra de alimentos, o que não deve se repetir este ano. Ele estima que, em 12 meses, as ações do Carrefour estejam valendo R$ 19,50, e as do Pão de Açúcar, R$ 88,40, o que representa um potencial de ganho de 30,3% e 23,9%, respectivamente.
— O Pão de Açúcar passou por uma transformação nos últimos anos, ao focar mais no varejo de alimentos e lançar mão de uma estratégia mais voltada para as lojas de atacarejo (Assaí). Esse mesmo tipo de estratégia foi adotado pelo Carrefour, na bandeira Atacadão, e tem dado bons resultados — explica Soares.
Giovana Scottini, analista da Eleven Financial, também vê espaço para ganhos em ações do varejo, uma vez que o segmento será beneficiado pelo cenário econômico, bem como por melhorias operacionais:
— Algumas empresas começaram, com a queda dos juros, a reduzir a sua alavancagem financeira, gastando menos com a dívida. E, em um ambiente de consumo mais favorável, também vão ter ganhos operacionais.
Uma das apostas da Eleven é a Springs Global, dona da Santista e da Artex, do setor têxtil. A expectativa é de valorização de 66%, com a ação podendo chegar a R$ 18 em fevereiro do ano que vem. Outra recomendação de compra é a B2W — Submarino, Americanas.com e Shoptime —, cujos resultados devem começar a melhorar com um investimento maior em marketplace (venda de produtos de outras empesas) e menores custos operacionais. A analista espera que, em 12 meses, o papel chegue a R$ 26, o que representa um potencial de valorização de 16,9%.
Ainda no radar dos analistas estão os papéis de Via Varejo, Lojas Marisa e Hering. Nos últimos 12 meses, o Ibovespa, principal índice de ações da B3 (antiga Bovespa), acumula alta de 24,6%. Já o Índice de Consumo, que inclui uma série de varejistas e outras empresas sensíveis à demanda do consumidor, subiu 22,6%. No ano, a diferença é ainda maior. O Ibovespa acumula alta de 10%, enquanto o Índice de Consumo cai 2%.
Fonte: O Globo