Durante o mês de fevereiro, os preços do milho praticados na BM&F Bovespa subiram entre 7,26% e 18,64%, conforme levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Lopes. Inclusive, ao longo do pregão desta quarta-feira (28), o março/18 rompeu o importante patamar de R$ 40,00 a saca.
Porém, no final do dia, as principais posições da commodity recuaram, em um movimento de realização de lucros, depois de exibir bons ganhos desde o início da semana e atingir o limite de alta. As principais posições do cereal caíram entre 0,43% e 2,65% nesta terça-feira. O março/18 era cotado a R$ 39,40 a saca e o maio/18 operava a R$ 37,15 a saca.
O consultor em agronegócio, Ênio Fernandes, destaca que a forte alta registrada nos preços é decorrente da menor disponibilidade do produto no mercado. "Nesse momento, o produtor não tem interesse em vender, pois a preocupação é outra. As atenções estão voltadas para a colheita da soja e a semeadura da segunda safra do cereal", explica.
Além disso, o especialista ressalta que a recente alta nos preços dos fretes também contribuem para a movimentação positiva. "Com a colheita da soja temos uma briga por caminhões e esse milho está disponível em regiões de produção de segunda safra, como Goiás, Mato Grosso. Porém, os agricultores estão focados na colheita, o que acaba afastando as origens de comercialização", diz Fernandes.
O atraso na chegada da oferta ao mercado também é um dos fatores que impulsionam as cotações do cereal. As adversidades climáticas atrasaram o início da semeadura do grão em muitas regiões, sem contar que, a produção de milho será menor nesta temporada, uma vez que os produtores deram preferência ao plantio da soja.
Conforme levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), os produtores brasileiros deverão colher 24,74 milhões de toneladas do grão nesta safra. Na temporada anterior, a produção colhida ficou em 30,46 milhões de toneladas.
"E poucas pessoas acreditavam em exportações próximas de 33 milhões a 34 milhões de toneladas neste ciclo. Tivemos uma boa demanda, interna e externa, para a safrinha de milho do ano passado, o que ajudou a enxugar os estoques brasileiros do grão", completa o consultor em agronegócio. Contudo, a projeção da Conab ainda é de estoque acima de 18 milhões de toneladas nesta temporada.
Por outro lado, as incertezas trazidas pela safrinha também geram especulações no mercado. Fernandes alerta que, depois do atraso na soja, em torno de 30% da safrinha será cultivada fora da janela ideal de plantio, quadro que gera dúvidas sobre os rendimentos das plantações na safra de inverno.
Essa é a preocupação nas principais regiões produtoras de milho segunda safra no Brasil. Diante do comprometimento da janela ideal, a perspectiva é de redução na área plantada com o grão e também nos investimentos em tecnologia.
Levantamento realizado pela AgRural aponta que cerca de 43% da área estimada foi semeada com o milho até a última semana no Centro-Sul do país. O índice ainda está abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, de 57%.
Ainda conforme projeção da Conab, a safrinha deverá somar 63,26 milhões de toneladas do grão. No ano anterior, os agricultores colheram 67,38 milhões de toneladas.
"Até a chegada da segunda safra no mercado a oferta será limitada, isso não quer dizer que os preços não irão cair. Mas quem precisa comprar milho deve tomar cuidado. Acredito que até o dia 10 de março, as cotações devem permanecer firmes, pois será difícil tirar o produtor do campo para negociar o milho", orienta Fernandes.
No mercado doméstico, as cotações do milho encerraram a quarta-feira com ligeiras valorizações. Em Cascavel e Ubiratã, ambas praças do Paraná, o preço subiu 8,33%, com a saca a R$ 26,00. Em Pato Branco, o ganho foi de 6,42%, com a saca a R$ 28,20. Já em Londrina, a alta foi de 4,17%, com a saca do cereal a R$ 25,00.
Na região de Campinas (SP), o preço do milho registrou valorização de 8,20%, com a saca a R$ 39,60. Em Rio Verde (GO), a alta foi de 4,00%, com a saca a R$ 26,00. No Porto de Paranaguá, a saca subiu 1,56% e encerrou o dia a R$ 32,50.
Bolsa de Chicago
A quarta-feira também foi positiva aos preços do milho negociados na Bolsa de Chicago (CBOT). As principais posições do cereal encerraram o pregão com valorizações entre 2,00 e 4,00 pontos. O março/18 era cotado a US$ 3,74 por bushel, enquanto o maio/18 operava a US$ 3,82 por bushel.
"Os ganhos registrados em soja e trigo proporcionaram um impulso aos preços futuros do milho", informou a Reuters Internacional. Paralelamente, o clima na Argentina segue no radar dos participantes do mercado. Isso porque, as lavouras registram perdas consolidadas e a estimativa para essa temporada já foi revisada para baixo, para 37 milhões de toneladas.
"As chuvas esparsas continuam diminuindo o potencial produtivo das lavouras", reportou o Agrimoney.com. Os mapas climáticos indicam chuvas na metade ocidental do país vizinho nos próximos dias, embora as chuvas não deverão se confirmar na metade mais seca da Argentina e nas principais regiões produtoras de milho, de acordo com Benson Quinn Commodities.
"Também há suporte de algum atraso na colheita da soja brasileira, o que pode atrasar as plantações brasileiras de milho", disse Graydon Chong, analista sênior de commodities do Rabobank à Reuters Internacional.
Fonte: Notícias Agrícolas