A Copa do Mundo da Fifa e a demanda represada pela crise alavancaram a venda de televisores no Brasil. Apesar do resultado positivo, o setor ainda não enxerga um retorno ao patamar recorde de 2014.
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, aponta que nas duas últimas edições do torneio, em 2010 e 2014, a venda de aparelhos atingiu seus maiores patamares. “Não sei se isso vai se repetir agora, porque em 2014 também houve mudança de sistema analógico para o digital. Naquele ano, foram quase 15 milhões de vendas.”
Dados da entidade mostram que as vendas do 1º trimestre de 2018 são 42% superiores as de igual período do ano passado. “É um número importante, que excede as expectativas. Houve uma melhora geral em todos os segmentos, mas o de televisores está sendo extraordinário”, avalia Kiçula. Nos três primeiros meses do ano, cerca de 3,6 milhões de aparelhos foram vendidos, contra 2,530 milhões em igual intervalo de 2017. “A movimentação causada pela Copa costuma ocorrer em maio, mas nesse ano houve uma antecipação, já se iniciou em abril.”
No ano passado, foi interrompida uma trajetória de queda que se iniciou em 2015. A projeção da entidade é que em 2018 o resultado volte a ser positivo. “Todo mundo sentiu a crise, portáteis, televisores, linha branca. Foi difícil. Esperamos avanço entre 5% a 10% para este ano, podendo ser maior em alguns segmentos”, prevê Kiçula.
O diretor de vendas da Semp TCL, Kleber Carante, vê a reação sendo puxada pelo desempenho no varejo. “No ano passado, ocorreu uma retomada após concentração de queda desde a Copa de 2014. O mercado sofreu bastante e agora está havendo uma movimentação dessa demanda reprimida. A perspectiva é bastante favorável.” O executivo acredita que o segmento de televisores deverá crescer cerca de 20% em 2018. “É o carro-chefe em função do apelo da Copa. As demais linhas seguem uma sazonalidade normal de consumo. A Semp TCL espera crescer acima do mercado, em torno de 40%”, estima.
O gerente de televisores da Sony Brasil, Walter Sinohara, também aponta antecipação da demanda em abril. “A expectativa é de crescimento do mercado, as vendas estão 70% acima do 1º quadrimestre de 2017.”
O economista da Pezco, Yan Cattani, observa que os efeitos das sucessivas quedas de juros começaram a chegar ao consumidor. Além disso, a baixa inflação vem contribuindo para o ganho de poder aquisitivo do consumidor. “A recuperação está um pouco aquém do esperado e a taxa de desemprego oscila. Apesar disso, o cenário está melhor do que antes, tornando o consumo de eletroeletrônicos mais atrativo.” Cattani também acredita esse cenário mais confortável esteja liberando o consumo que ficou represado durante a crise. “O brasileiro, que ficou bastante receoso nos últimos anos, começa a visualizar um horizonte um pouco melhor para retomar o financiamento.”
Novas tecnologias
Além da demanda sazonal, fabricantes acreditam que novas tecnologias também estão influenciando na maior procura por aparelhos. Entre elas, estão o 4K, equipamentos com tela de alta definição, e TVs smarts, que possibilitam o acesso a conteúdo online. “O 4K é o principal ponto de inovação em termos de volume”, aponta Carante.
O gerente de produtos de TV da Samsung Brasil, Guilherme Campos, explica que a resolução do 4K permite que telas grandes fiquem a uma distância menor sem perda de qualidade. “No primeiro trimestre desse ano, o segmento de televisores de no mínimo 65 polegadas cresceu 110% em faturamento. O avanço da Samsung foi de 183% no período.”
Sinohara confirma a tendência. “A maior procura é por tela grande.” Em função dessa demanda, a Sony antecipou a pré-venda de um modelo de 85 polegadas, permitindo a entrega antes do início da Copa.
Campos aponta duas razões para essa procura: a possibilidade de se ter uma tela grande em um espaço menor e preços mais acessíveis. “O crescimento da oferta e a consequente acomodação de preços tornam o sonho da tela grande viável.”
O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, aponta que a produção de televisores teve aumento não só em função da Copa, mas da migração para o sistema digital. “A interrupção do sinal analógico em Manaus ocorre em 30 de maio. O nível de capacidade instalada melhorou e superou 80% no primeiro trimestre do ano”, relata.
Apesar da movimentação positiva, Périco afirma que não houve impacto na contratação de mão-de-obra. “Não percebemos melhoria no nível de emprego, não há sinalização disso nos indicadores.”
Carante acredita que ainda há capacidade de produção dentro da indústria para absorver a demanda crescente. “O mercado retraiu muito nos últimos anos, chegou a 14 milhões e caiu para quase 8 milhões.”
Ele aponta que a sazonalidade do consumo também é influenciada pela vida útil do produto. “O aparelho é comprado para a Copa, mas a média de troca é de quatro a cinco anos, até pelo valor do investimento.”
Fonte: DCI