O bom começo de ano do varejo gaúcho – que viu o volume de vendas crescer 10% no primeiro trimestre, ante 3,8% na média nacional – pode ser corroído pela paralisação dos caminhoneiros que afetou o abastecimento de lojistas.
"Teremos, sem dúvidas, uma queda no volume de vendas [em maio]. Ontem (28) já vendemos apenas 50% do que deveríamos", afirmou o presidente do Sindicato dos Lojistas de Comércio (Sindilojas) de Porto Alegre, Paulo Kruse. De acordo com o dirigente, a crise logística foi deflagrada no momento em que as vendas de inverno "começavam a crescer".
Durante a Feira Brasileira do Varejo (FBV) organizada pela entidade gaúcha, outros lojistas citaram cenário semelhante de interrupção em momento promissor. "No período que antecedeu o Dia das Mães tivemos um belo crescimento", disse o diretor-presidente da rede de lojas Obino, Pedro Ernesto Obino. "Só que a paralisação vai corroer todo o resultado do mês, além de abalar a confiança do consumidor."
Especializada em eletroeletrônicos, móveis e com 47 unidades em 36 municípios gaúchos, a Obino não recebe abastecimento há uma semana. "Nossos produtos mais vendidos já estão faltando às vésperas da Copa", afirmou. Ainda assim, a rede projeta "crescimento em ritmo lento para moderado" no ano.
Situação de bloqueio logístico também foi reportada pelo presidente do Sindilojas da cidade fronteiriça de Uruguaiana, a 631 km da capital Porto Alegre. De acordo com o presidente da entidade, Read Jabr, a greve dos caminhoneiros afetou frontalmente a dinâmica do comércio do município ao paralisar o Porto Seco (rodoferroviário) Internacional de Uruguaiana, “afetando a saída de cargas vendidas para Uruguai, Argentina e Paraguai”. Segundo Jabr, aproximadamente 1,5 mil caminhões passam diariamente pela estrutura.
Desencontro?
Assim como no restante do País, a crise do abastecimento e logística deve prejudicar uma sequência positiva de resultados vivenciada no comércio gaúcho. “No primeiro trimestre, o ritmo no Sul foi mais intenso do que o do Sudeste, ainda que agora as [vendas nas] duas regiões estejam se equiparando”, afirmou o diretor comercial da fabricante de fogões Atlas Eletrodomésticos , Clovis Simões. Ele lembrou ainda que está com a planta cidade paranaense Pato Branco parada desde o dia 24.
Em termos de volume de venda, o comércio do Paraná teve alta de 5% nos três primeiros meses do ano, enquanto a vizinha Santa Catarina registrou alta ainda maior (12,8%) de acordo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC). Já no Rio Grande do Sul, a alta de 10% chegou a causar estranheza a alguns lojistas e analistas da região.
Economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo não descarta a possibilidade de desencontro entre o começo do ano para lojistas e a amostra da PMC. Segundo Kruse, do Sindilojas de Porto Alegre, na capital a alta no primeiro trimestre foi de 4%.
“Ao verificar aspectos como a arrecadação do ICMS, não há dúvidas que o comércio gaúcho está crescendo, mas não conseguimos ver com muita clareza o porque de um números tão acelerados”, afirmou a economista da Fecomércio-RS.
Patrícia lembrou que a situação financeira do estado “ainda se encontra em ponto crítico”. Por outro lado, a especialista destaca a taxa de ocupação da população gaúcha – “maior que a do País em termos relativos” – e a segunda safra agrícola positiva consecutiva no estado como possíveis impulsores do consumo. “A grande diferença é que o consumidor chega cheio de receio e dando muito mais valor para o dinheiro do que no passado”
Fonte: DCI