A entrada da safra brasileira de trigo no próximo mês de setembro e da produção argentina no final deste ano não devem ser suficientes para reduzir as cotações em curto prazo, estima o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh.
Ainda que a Argentina caminhe para uma safra recorde, a quebra de produção em países como a Rússia deve manter o mercado aquecido. “Não vejo uma redução de custos para os moinhos. Estamos começando a comprar a safra argentina com preços maiores, porque eles são competitivos no mundo inteiro. Não vai ter refresco para a indústria brasileira”, disse o dirigente.
Ele explica que as cotações internacionais para a próxima safra estão maiores porque, além da Rússia, outros países como a China também registraram declínio da produção e devem aumentar a demanda pelo cereal.
“O estoque de segurança chinês é de 14 milhões de toneladas, mas com a quebra ficaria em 12 milhões. Se os chineses entrarem no mercado, haverá uma distorção, portanto, não há uma perspectiva de queda do preço do trigo no curto prazo.”
O Brasil deve importar em torno de 6 milhões de toneladas para que a moagem neste ano-safra seja de 10,8 milhões de toneladas, estima o dirigente, próximo dos 10,6 milhões de toneladas do ano passado. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira deste ano deve chegar a 5,1 milhões de toneladas ante 4,2 milhões de toneladas em 2017. “O trigo brasileiro não caiu de preço nas últimas semanas em um cenário em que a colheita está atrasada por conta da seca e do dólar, que se valorizou. Será um ano de custos altos e margens ajustadas para os moinhos.” O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entretanto, aponta uma retração de 2,4% dos preços no mercado interno no mês, para R$ 963,35 por tonelada.
A Argentina é o principal fornecedor brasileiro e responde por 95% das importações. Nesta safra deve alcançar entre 18 milhões e 20 milhões de toneladas ante 17 milhões no ano passado.
Política setorial
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, apresentou ontem a jornalistas as diretrizes de uma proposta de Política Nacional do Trigo a ser entregue aos candidatos à presidência da República, que ainda está em fase de elaboração. A associação é composta por 44 moinhos e representa 85% da indústria moageira.
“Falta uma política estratégica para o desenvolvimento de toda a cadeia. Queremos que isso seja levado em conta na formação da futura política agrícola do País, mas também com a política econômica do governo”, diz. “É um programa para 10, 15 ou 20 anos.” A proposta é composta por seis eixos: ambiente legal, produção, incentivos fiscais, cenário para negócios, comércio internacional, logística e infraestrutura.
A Abitrigo defende a expansão da área de produção para além das regiões tradicionais – os estados do Rio Grande do Sul e Paraná, que concentram mais de 90% do cultivo – onde a produção está estagnada. “Queremos ampliar a diversificação da produção, com diferentes variedades cultivadas em cada região, e aumentar a produção alinhada com o que o mercado quer. Hoje, existem produtos que já requerem um trigo específico”, esclarece.
Barbosa ainda argumenta que a intenção é que exista um fluxo de comércio de importação e exportação de trigo, ao contrário do que existe hoje, com o Brasil dependente do trigo argentino e exportando pequenas quantidades. De janeiro a agosto, o País embarcou 165 mil toneladas, com receita de US$ 28,7 milhões. Saigh cita também a necessidade de uma isonomia tributária na cadeia produtiva. “As regiões têm diferentes incentivos fiscais. A guerra fiscal prejudica muito o setor.”
Fonte: DCI