No verdejante planalto meridional da Etiópia, o produtor de café Gafeto Gardo está pensando em dar um tempo a uma indústria que sustenta famílias há gerações.
No ano passado, a quantia que Gafeto recebeu por um quilo de café caiu um terço, para 8 birr, ou apenas US$ 0,29, reduzindo sua renda para menos de US$ 0,01 por um cappuccino vendido no Ocidente entre US$ 3 e US$ 4.
"Agora estamos perdendo a esperança. Não estamos colhendo tanto quanto devíamos e estou preocupado que isso tenha um impacto enorme", disse Gafeto, ladeado por trabalhadores que colocam café cereja em esteiras de juta nas colinas do distrito de Shebedino, na Etiópia. "O café é a nossa vida aqui."
Ao contrário dos produtores de commodities como petróleo e gás natural, os cafeicultores há muito sofrem de estar na extremidade baixa da cadeia de valor -- recebendo apenas uma pequena fração do preço de varejo de sua safra.
Agora, a queda nos preços globais do café para o menor nível em quase 13 anos em setembro está levantando questões sobre se vale a pena cultivar grãos em alguns dos centros cafeeiros tradicionais da América Central, Colômbia e Etiópia.
Mas no outro extremo da cadeia, o café nunca foi tão "quente". Millenials do Ocidente que cresceram com a Starbucks impulsionaram uma proliferação de cafeterias e inovações que vão da extração a fria ao café com nitrogênio.
A indústria também viu uma onda de aquisições, na medida em que empresas como Nestlé, JAB Holding e Coca-Cola gastam bilhões para aumentar suas fatias de mercado.
Para os agricultores em dificuldades, porém, os tempos são áridos. Produtores de todo o mundo alertaram executivos das empresas de café no Ocidente sobre crescente "catástrofe social", caso eles não ajudem a aumentar a renda dos cafeicultores.
Em uma endereçada a executivos-chefes de empresas como Starbucks, Jacobs Douwe Egberts (JDE) e Nestlé carta no ano passado, um grupo que representa produtores em mais de 30 países alertou que fazendas em risco seriam abandonadas, o que alimentaria a agitação social e política, bem como provocaria mais migração ilegal.
Algumas empresas estão respondendo. A Starbucks, por exemplo, destinou US$ 20 milhões para ajudar os pequenos agricultores com quem faz negócios na América Central até que os preços do café subam acima de seu custo de produção.
"Para nós, esse é um passo inicial, reconhecimento de que precisamos fazer algo útil no curto prazo nos países que mais precisam", disse Michelle Burns, chefe de café da Starbucks, que compra cerca de 3% do café do mundo.
Safra recorde no Brasil
O principal fator por trás da mais recente queda de preços foi uma safra recorde de café no Brasil, de longe o maior produtor mundial. A safra brasileira atingiu o preço do café arábica negociado na Bolsa de Nova York.
Em 18 de setembro, um quilo de arábica caiu para apenas US$ 00,95 centavos de dólar por libra-preso, ou US$ 2,09 por quilo, um nível não visto desde dezembro de 2005 e menos de um terço do pico de 2011. Quatro meses depois, o preço ainda está em torno de US$ 1 por libra.
Para Gafeto e os outros 4.500 agricultores da cooperativa que ele ajudou a estabelecer na Etiópia, as flutuações nos mercados financeiros de Nova York rapidamente aumentam os preços em casa.
O mercado interno na Etiópia é amplamente determinado pelos leilões diários administrados pela Bolsa de Mercadorias da Etiópia, mas os preços se correlacionam intimamente com as tendências nos mercados futuros globais.
A Etiópia é um país sem litoral, de modo que um exportador que compra café em leilão normalmente transportará a mercadoria para o vizinho Djibuti, onde será embarcada em contêineres.
Os principais pontos de chegada na Europa incluem Hamburgo e Bremen, na Alemanha, e Antuérpia, na Bélgica. Os grãos são torrados, misturados e embalados na Europa antes de serem distribuídos para cafeterias e redes de varejo.
Embora a Etiópia produza algumas variedades de alta qualidade, apenas uma pequena proporção de seus grãos é vendida como cafés especiais, exclusivos de um local específico.
Fonte: G1