No afã de economizar, um número significativo de consumidores tem optado por embalagens econômicas e “packs” que reúnem várias unidades de um mesmo produto, forma de venda cada vez mais em evidência nas prateleiras dos mercados. A matemática de comprar quantidade maior para pagar menos, uma lógica comum ao setor atacadista, no entanto, nem sempre funciona quando se fala em consumo familiar. Há casos inclusive em que isso sai mais caro do que o preço unitário do item.
— Ao ver um pack , muitos consumidores tentam traduzir a lógica do atacado para o varejo. Mas comprar seis latas de refrigerante ou 12 sabonetes não é uma compra de atacado. Muitas pessoas ainda guardam a memória da hiperinflação, quando era preciso estocar produtos para garantir o melhor preço. Ao ver uma quantidade de itens com um anúncio de bom preço, acabam comprando, sem fazer contas — diz Hilaine Yaccoub, doutora em Antropologia do Consumo.
De olho neste impulso do consumidor, os supermercados têm aumentado o espaço nas prateleiras dedicado a esse tipo de embalagem, diz o consultor de varejo Marco Quintarelli:
— A estratégia de vender em pacotes sempre existiu, mas agora ela tem aumentado para atrair os clientes e impulsionar o consumo, em tempo de vendas mais fracas.
Sem prestar atenção no preço, a dona de casa Maria Xavier quase levou o pacote com seis latinhas de Coca-Cola achando que pagaria menos. O pack era vendido por R$ 16,14, mas ao levar a mesma quantidade do produto avulso ela economizou R$ 0,60.
— Como vi o pacote, achei que era o melhor, nem consultei o preço unitário — diz Maria, que foi alertada pelo filho.
informação na etiqueta
Já no Supermarket, o preço da unidade de cerveja vendida em embalagem com seis era o mesmo do item avulso.
Segundo o Procon-RJ, os mercados não são obrigados a vender por preços mais baixos os produtos apresentados em pacotes. No entanto, quando essas embalagens configuram ofertas, se não houver vantagem de preço, pode estar caracterizada uma propaganda enganosa.
Fazer as contas, no entanto, pode não ser tarefa simples. Isso porque, em muitos casos, falta uma informação obrigatória, segundo o Procon-RJ, nas etiquetas de preço dos pacotes: o valor unitário, do quilo ou do litro do produto. No Extra, quem comprou o pacote promocional de desinfetante Veja, que garantia 50% de desconto na segunda unidade, precisou fazer as contas sozinho para saber quanto pagaria por unidade: falta essa informação na etiqueta de preço.
Mas existe vantagem nos packs , sustenta Quintarelli. Quem fez as contas e comparou o preço do refil de um litro (R$ 11,89) à garrafa de três litros (R$ 29,99) do Omo fez uma economia de quase 20% ao comprar a embalagem família, no Carrefour.
— É preciso avaliar ainda se você tem dinheiro para levar aquele volume de produtos, se o uso é recorrente ou se terá como dividir a compra com alguém — ensina o consultor.
É munida dessa lógica que a funcionária pública Suely Rodinho vai às compras:
— Compro produtos tamanho família, que uso muito. Sempre faço as contas para garantir que estou levando o que está mais em conta.
Procurados, Carrefour e Extra disseram seguir as orientações do Procon-RJ e que vão aprimorar seus procedimentos. O Supermarket não quis se posicionar.
Fonte: O Globo - Rio de Janeiro