A indústria do trigo acredita que a cota de importação sem incidência de alíquota para países de fora do Mercosul poderia elevar a oferta do cereal no País e reduzir a dependência da Argentina.
“O Brasil importa uma quantidade enorme de trigo e, do ponto de vista da indústria, quanto mais opções de oferta, melhores serão os preços”, declarou o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA), Rubens Barbosa, em coletiva de imprensa nesta terça-feira (26).
Anunciada na semana passada, após encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, a cota de importação de 750 mil toneladas de trigo sem tarifas será válida para qualquer país não membro do Mercosul. “Não é uma reserva de mercado para os Estados Unidos, mas vale lembrar que o país tem vantagem, por conhecer nosso mercado”, avalia Barbosa.
O dirigente defende que a oferta do insumo seja ampliada no Brasil, em um ambiente de mercado livre. No ano passado, das 12,17 milhões de toneladas de trigo processadas pela indústria, 6,8 milhões foram importadas. “Cerca de 85% vieram da Argentina”, estima. Para Barbosa, o país vizinho ficará mais pressionado. “Eles não vão querer perder mercado.”
Conforme o dirigente, o produtor nacional não será prejudicado. “Ele vai seguir colocando seu produto no mercado. Não vai trazer grandes alterações no curto prazo. Mas o setor produtivo vai ter que se adaptar a essa nova realidade.”
Ele destaca que as importações dos EUA podem chegar a um preço competitivo no Norte e Nordeste do Brasil. “O que conta é o frete e o nosso cultivo está muito concentrado na região Sul”, assinala. Barbosa declarou que a Abitrigo apresentou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) uma agenda para melhorar a competitividade e expandir a produção nacional. “A ideia é crescer gradualmente e buscar novas áreas, saindo dessa concentração no Rio Grande do Sul e Paraná. Alguns estudos mostram que o norte do Cerrado tem um grande potencial.”
Barbosa conta que o propósito não é atingir autossuficiência do trigo ou limitar importações, mas melhorar a oferta. Ele ressalta que para que isso ocorra, é necessária a melhora de infraestrutura. “Logística não é algo que se resolve no curto prazo. Estamos falando de estradas e ferrovias para escoar a produção.”
O dirigente também aponta a necessidade de melhora de produtividade no País. “Temos que aumentar nossa eficiência, racionalizar. A nossa visão não é de subsídio, mas de mercado. Se de fato acabarem os subsídios, conforme o discurso do [ministro da Economia] Paulo Guedes, o produtor vai ter que se adaptar.”
Barbosa acredita que a reforma Tributária também será importante para corrigir distorções que impactam a competitividade de diferentes setores. “O que queremos é que haja tratamento único, sem políticas diferenciadas para determinados setores. A competitividade é o maior problema hoje e isso só ser mudado quando o custo Brasil for atacado”, analisa.
Balanço
O volume processado pela indústria de moagem brasileira no ano passado cresceu 3,4% em relação a 2017. “Não é um aumento significativo, mas cresce mais do que a economia e o setor manteve os empregos”, disse Barbosa. De acordo com a Abitrigo, do total da farinha produzida, 56% foram destinadas à panificação, 26% para indústria, 11% para o varejo e 7% para demais produtos, como farelo e ração.
Para 2019, a expectativa é positiva. “A tendência é que, se a economia crescer mais do que no ano passado, o nosso desempenho seja melhor. Acreditamos que se a reforma da Previdência passar, o País vai crescer mais do que o esperado”, ponderou o dirigente.
Uma pesquisa feita pela entidade revela que 72% dos moinhos brasileiros estão otimistas, sendo que 42,1% estimam crescimento entre 1% a 5%, e outros 30% acreditam que será acima de 5%. “Ressaltamos que essa pesquisa foi realizada entre janeiro e fevereiro, quando a expectativa era um pouco mais otimista que a atual”, observou Barbosa.
Fonte: DCI