No programa Direto ao Ponto, o presidente da entidade, Geraldo Borges, discute a decisão do governo de não renovar tarifa antidumping para leite em pó importado e fala sobre as demandas do setor no Brasil
Em fevereiro passado, o Ministério da Economia decidiu não renovar as tarifas antidumping sobre leite em pó importado da União Europeia e da Nova Zelândia. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, a medida foi tomada por acreditar-se que não haveria risco imediato de que esses exportadores de lácteos adotassem práticas de mercado em desacordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), concedendo subsídios aos produtores locais, por exemplo.
“Mas entendemos que o risco não precisa ser momentâneo. Não queremos correr riscos nem agora, nem no curto, médio ou longo prazo”, disse Borges, em entrevista ao programa Direto ao Ponto.
O presidente da Abraleite lembra que o mais recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que há no país 1,171 milhão de propriedades que produzem leite. A pecuária leiteira, diz o estudo, está presente em 98% dos municípios brasileiros. “A atividade tem um papel socioeconômico muito grande”, diz.
Esse contingente estaria ameaçado pela eventual entrada de produto subsidiado sobretudo por governos europeus, que seriam mais agressivos no comércio exterior. “Temos um exemplo recente disso na África, que recebeu milhares de toneladas de leite em pó europeu, destruindo a cadeia produtiva local”, conta Borges.
Ele elogia Jair Bolsonaro por ficar ao lado da classe produtora na questão da não renovação da tarifa antidumping. Segundo ele, o presidente se manifestou nas redes sociais dizendo que iria criar algum tipo de salvaguarda para o produto brasileiro. De acordo com o representante da Abramilho, a classe produtora se acalmou acreditando nessa declaração, embora até o momento não tenha havido alguma compensação efetiva.
“Não queremos protecionismo; nós queremos condições iguais de competitividade. E não podemos competir com países que têm incentivo e subsídios, e que às vezes conseguem colocar o leite no mercado a um custo muito mais baixo do que o nosso”, diz.
Para aumentar a competitividade do leite brasileiro, Borges afirma que também é preciso trabalhar fatores com a eficiência produtiva da cadeia. “Mas é preciso entender que o Brasil tem uma variedade muito grande de estilos e de porte de produção”.
Outra demanda do setor apontada é a desoneração da cadeia. “Nós temos insumos que entram no país altamente tributados, como equipamentos para ordenha e conjunto de teteiras, que precisam ser substituídos periodicamente nas propriedades. Enquanto isso, o leite de nossos ‘hermanos’, países vizinhos do Mercosul, entra aqui sem tributação. Temos que resolver algumas assimetrias”, exemplifica Borges.
Fonte: Canal Rural