Varejo reage à fusão da Sadia com a Perdigão

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Supermercados temem nivelamento das condições de negociação entre as duas empresas e alta de preço

 

A união da Sadia com a Perdigão preocupa o setor supermercadista, que já tem uma estratégia para resistir ao grande poder de fogo adquirido pela megacompanhia que acaba de nascer: "Vamos abrir espaço para as marcas menores", avisa o diretor de uma grande rede de supermercados.

 

Diante da sensibilidade da questão, Nildemar Secches, agora copresidente do Conselho de Administração da Brasil Foods, nome da nova empresa, teve o cuidado de telefonar para clientes de peso como Pão de Açúcar e Carrefour, para explicar a operação, como revela hoje Sonia Racy na "Coluna Direto da Fonte", na página D2.

 

A maior receptividade dos compradores, especialmente estrangeiros, para marcas menores, foi sentida nos últimos dias por Aderbal Arantes, presidente do Grupo Arantes, dono das marcas Hans, Eder e Sertanejo. Ele conta que fechou, nesta semana, exportações para distribuidores da Europa e do Japão que nunca tinham comprado produto s da empresa. "Esses negócios já refletem o movimento da fusão. Eles não querem ficar na mão de uma grande companhia", afirma o executivo. Ele acrescenta que movimento semelhante ocorre também entre os clientes domésticos, mas que ainda não foram fechados negócios. "As redes nacionais estão avaliando as possibilidades."

 

O diretor comercial da Pif Paf Alimentos, Edivaldo Campos, líder no mercado de carnes congeladas em Minas Gerais, é outro empresário que acredita que a união de Sadia e Perdigão vai ampliar o mercado para fornecedores menores. "Todo o cliente quer ter mais de um fornecedor. Isso vai abrir oportunidades para nós tanto no mercado interno quanto no externo." Ele pretende aumentar a participação nos mercados em que está presente. Além de Minas, a empresa atua em São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Goiás.

 

O temor dos supermercados é que Sadia e Perdigão nivelem as condições de negociação em termos de prazos, preço s e bonificações dadas aos clientes. Apesar da promessa de que as duas marcas permanecem independentes, na prática, elas vão pertencer a uma única companhia. "Esse impacto será inevitável", afirma o diretor de uma grande rede de supermercados.

 

É exatamente para atenuar esse efeito que o varejo pretende ampliar a oferta de marcas alternativas. De acordo com supermercadistas, marcas regionais têm hoje capacidade de atender a demanda adicional por seus produtos. Os únicos itens em que a substituição será mais difícil são linguiças e salsichas, uma vez que as assinaturas da Sadia e da Perdigão são muito fortes.

 

Sobre a união da Sadia com a Perdigão, João Sanzovo Neto, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), disse na segunda-feira, durante a abertura da feira do setor em São Paulo, que os supermercados confiam nos mecanismos de controle de defesa da concorrência para atenuar os impactos da fusão no mercado e imped ir uma eventual alta de preços. "Também acreditamos que as empresas são maduras a ponto de saber que, se subirem os preços, vão surgir outros concorrentes no mercado", afirmou o empresário.

 

''Questão financeira, por si só, não justificaria união''
 


O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) só deverá considerar a situação financeira delicada da Sadia como argumento para uma aprovação rápida da fusão com a Perdigão se ficar demonstrado que a empresa não tinha outra saída para superar as dificuldades que passou a enfrentar com o agravamento da crise, no fim do ano passado, e que abriram um rombo de R$ 2,6 bilhões no patrimônio dela.

 

Dois ex-integrantes do Cade ouvidos pela Agência Estado concordaram ontem que a questão financeira poderá ser levada aos órgãos de defesa da concorrência como um meio de pressão por uma decisão favorável à fusão. Mas ressaltaram que, por si só, o argumento não seria decisivo.

 

"A situação falimentar de uma empresa nunca pode ser o primeiro argumento porque o contra-argumento natural das autoridades serão as perguntas: mas por que a fusão com seu maior concorrente? Não havia outra empresa entrante no mercado que poderia adquiri-la?", afirmou o economista Luiz Carlos Delorme Prado, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Outro ex-conselheiro, o economista Cleaveland Prates, da Microanalysis Consultoria, ressaltou que será preciso provar que outras alternativas eram inviáveis. "Isso teria de ficar muito claro para conselho."

 

Os especialistas afirmam que os órgãos de governo terão pela frente um trabalho essencialmente técnico, que é definir os "mercados relevantes" da Brasil Foods, a partir de cada produto comercializado pelas duas empresas que se fundiram

 

Para os ex-conselheiros, as autoridades da defesa da concorrência também não deverão se pautar pela ideia defendida por alguns setores do governo de que as fusões são necessárias para que empresas nacionais possam competir internacionalmente. "O trabalho t écnico é anterior a isso e o foco será o consumidor. Mesmo que haja concentrações, o negócio pode ser aprovado com argumentos técnicos", afirmou Prado.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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