Os consumidores dos EUA estão transformando "um alimento típico dos pobres em um tipo de iguaria", segundo informou Oscar Nogueira, especialista em frutas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Os gastos com produtos que contêm açaí por americanos que querem perder peso, ganhar energia ou desacelerar o envelhecimento dobrou no ano passado, para US$ 104 milhões, segundo a SPINS, empresa de pesquisa de mercado sediada em Schaumburg, Estado norte-americano de Illinois.
Desde que a demanda dos EUA decolou, no começo desta década, o preço da fruta no atacado disparou cerca de 60 vezes, segundo mostram dados da Embrapa.
Em 2008, as exportações do Pará, o maior produtor de açaí do Brasil, cresceram 53%, correspondendo a cerca de um quarto da safra, segundo o governo local. A produção, porém, aumentou pouco nos últimos cinco anos.
A apresentadora americana Oprah Winfrey conversou sobre a fruta com o cardiologista Mehmet Oz no seu programa de televisão quando ele apresentou uma "lista anti-idade", que inclui o consumo de açaí, mirtilo e tomates. O açaí "tem o dobro do conteúdo de antioxidantes do mirtilo", disse Oz, de Nova York.
O site de Oprah exibe a "Lista de 10 superalimentos" feita pelo dermatologista Nicholas Perricone, que inclui o açaí. Perricone, baseado em Meriden, Estado de Connecticut, vende produtos para a pele e suplementos alimentares, entre eles um pó que contém açaí, segundo o site dele.
Um Luxo
Em Igarapé-Miri, aldeia paraense a 1.800 quilômetros ao norte de Brasília, Francisca Neves, que vende farinha de mandioca para vizinhos e restaurantes, diz que a polpa amarga que ela costuma comer agora se tornou um luxo. "A nossa neta vai fazer três anos e vamos receber a família", disse Francisca, 68, enquanto pagava 20 reais, ou cerca de 7% da sua renda familiar mensal, por dois litros da polpa em uma feira local.
O açaí é a fruta de uma palmeira e parece um mirtilo. Na Amazônia, ela é batida, diluída em água e comida com mandioca, carne, peixe ou camarão seco. A polpa fornece mais proteína em relação ao seu peso do que ovos e leite e tem altos níveis do antioxidante antocianina, assim como vitaminas E B1, potássio, ferro e cálcio, segundo a Embrapa.
O governo do Pará recomenda o seu consumo. A fruta é associada popularmente com força dos ossos e dos músculos, longevidade e um sistema imunológico saudável, disse Lucival Cardoso, diretor do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Pará.
"Incentivamos as famílias a darem açaí para as crianças a partir dos seis meses", disse Cardoso. "Também é um alimento que satisfaz muito: é por isso que ele é associado às dietas das famílias de baixa renda."
A Food and Drug Administration (FDA, órgão regulador da comercialização de remédios e alimentos dos EUA) não examinou produtos com açaí, informou Susan Cruzan, porta-voz da FDA.
Comprimidos, bebidas energéticas com a fruta e outros produtos que contêm açaí são vendidos em lojas de produtos naturais em todo o território dos EUA. Alguns sites dizem que a fruta ajuda na perda de peso, disfunções sexuais, combate a células cancerosas e regeneração dos músculos.
As tentativas de aumentar a produção no Brasil de forma a atender à demanda têm tido pouco sucesso por causa da dificuldade em obter terra às margens dos rios, disse Alfredo Oyama Homma, economista rural da Embrapa em Belém. "As palmeiras do açaí são mais produtivas quando cercadas por outras árvores e também precisam de muita água", disse Homma.
No Brasil, os produtores tradicionalmente vendem sua safra em cestos de vime, que contêm cerca de 14 quilos de fruta. Desde 2000, o preço de um cesto de açaí subiu de 1 real para até 60 reais, segundo mostram dados da Embrapa.
Segundo Francisca, que diz que Igarapé-Miri é a capital mundial do açaí, os habitantes da cidade estão pagando o preço pela fama internacional da fruta.
Veículo: Gazeta Mercantil