Segmentos imobiliário e de comércio eletrônico do grupo podem se tornar independentes e abrir capital
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da incorporação do Ponto Frio, cuja aquisição foi anunciada na segunda-feira, o grupo Pão de Açúcar vive uma série de mudanças estruturais, com o objetivo de dobrar de tamanho em quatro anos e atingir R$ 40 bilhões de receita bruta até 2012. Entre elas, está a criação de uma empresa que abrigará os ativos imobiliários do grupo e a possibilidade do surgimento de outra companhia para comércio eletrônico.
O GPA Malls & Properties, a área imobiliária, começa a funcionar no próximo mês como uma estrutura independente do varejo. A nova empresa terá patrimônio líquido superior a R$ 2 bilhões, mais de cem imóveis próprios e, apenas com aluguel de 3.500 lojas nos hipermercados, receita anual de R$ 70 milhões.
O potencial de geração de caixa, no entanto, é muito maior, uma vez que deverão ser cobrados de aluguel 2% sobre o faturamento de cada loja que pertença ao próprio grupo. Também há projetos como novos prédios em terrenos que hoje abrigam lojas.
"O desempenho da área de varejo poderá ser acompanhado de maneira mais clara", diz Caio Mattar, vice-presidente.
Segundo Mattar, existe a hipótese de a empresa, futuramente, vir a ganhar vida própria e ter seu capital aberto na Bolsa. "As fontes de financiamento para a área imobiliária são mais viáveis do que para o varejo", diz Mattar.
Outra área que pode seguir o mesmo caminho é a de comércio eletrônico. Ponto Frio.com e Extra.com deverão, somados, faturar R$ 1 bilhão em 2009. Apesar de Claudio Galeazzi, presidente do grupo, ressaltar que uma nova empresa ainda está no âmbito das ideias, Mattar diz que está sendo feito um profundo estudo sobre a B2W.
Para este ano, a rede espera crescer 10%, superando R$ 23 bilhões em vendas brutas. Com o Ponto Frio e sua expectativa de alta nas vendas, o valor deve chegar a R$ 28,5 bilhões.
Desconto para analistas gera crítica da CVM
DA REPORTAGEM LOCAL
No evento chamado GPA Day, o grupo Pão de Açúcar recebe em sua sede investidores e analistas de mercado que acompanham e avaliam a empresa. São dadas explicações e respondidas perguntas sobre o grupo.
A relação de transparência com os analistas, no entanto, pode ter sido comprometida por um benefício oferecido pelo grupo, segundo a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Ao fim da apresentação, foi oferecido desconto de R$ 3.000 aos participantes do evento, que também recebeu jornalistas.
A promoção seria válida na compra de uma TV de LED de 46 polegadas da Samsung, durante o dia de hoje, em determinado endereço na internet. O televisor, que custa R$ 7.899, sairia por R$ 4.899, em 12 vezes sem juros para os participantes. Para fazer a compra, era necessário ter o cartão Extra. Uma fila para a emissão do cartão se formou na saída do auditório.
"Essa é uma situação que pode gerar conflito de interesse na hora em que forem fazer a análise sobre a situação da empresa", afirma Carlos Rebello Sobrinho, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM.
"O analista tem o dever de informar aos clientes e ao empregador todo e qualquer benefício que tenha recebido sob o risco de desrespeitar a legislação da CVM e o código de ética da Apimec [associação profissional]."
Na noite de ontem, após ser procurado pela Folha para se posicionar sobre o caso, o Pão de Açúcar decidiu suspender a promoção. (CB)
Veículo: Folha de S. Paulo