Algoritmos de foodtech brasileira podem alterar a composição de um alimento em suas nanofábricas
Do contêiner de 66 metros quadrados, uma nanofábrica produz um iogurte de planta a gosto do freguês, a partir das informações genéticas, recomendações médicas e preferências sensoriais. A ideia da foodtech brasileira The Question Mark — que desenvolveu uma base láctea a partir de inhame, castanha de caju e coco — pode até parecer futurista, mas atraiu investidores e está prestes a se lançar no mercado.
Fundada neste ano, a startup investiu R$ 2 milhões para instalar a primeira nanofábrica em Cajamar, cidade paulista escolhida pela boa infraestrutura logística. Uma segunda será inaugurada no início do próximo ano em São Paulo.
Para tirar o projeto do papel, a The Question Mark captou recursos com anjos — o que inclui nomes como Donald Cash, executivo que já liderou a Danone Nutricia na América Latina —, e firmas como Distrito Ventures e Play Studio, consultoria e venture builder que já investiu no Mercado Bitcoin e na cervejaria artesanal Praya.
A foodtech teve ainda a assessoria comercial da AGN Consultoria e Negócios, firma de Alberto Gonçalves Neto, um dos maiores especialistas em plant based no país.
Os produtos personalizados da The Question Mark ainda estão em testes e só devem entrar em fase comercial em 2022, mas a foodtech já lança agora em setembro uma linha plant based de leites e iogurtes que será vendida no e-commerce próprio e no varejo especializado em alimentação saudável. Requeijão e manteiga estão em desenvolvimento.
“Somos uma opção de nutrição saudável sem abrir mão da indulgência. Se o produto fosse apenas nutritivo, não estaria no nosso portfólio”, afirmou o fundador Pedro Campos.
E-commerce e varejo devem ser os principais canais de vendas da foodtech nos primeiros anos, mas o o desenvolvimento dos lácteos personalizados é a grande aposta do empreendedor — que antes de fundar a The Question Mark fez carreira na indústria de bebidas, passando por Coca-Cola e Natural One.
Para chegar ao modelo de negócios da foodtech, Campos passou os últimos dois anos dedicado ao projeto, num périplo que incluiu uma imersão na Anuga, tradicional feira da indústria de alimentos que ocorre na Alemanha, e visitas aos Estados Unidos.
À experiência de negócios, Campos aliou a bagagem técnica de Paula Scherer, gastrônoma que estudou com Sandor Kats — um dos maiores nomes da fermentação natural do mundo —, e Cauré Portugal, biólogo e PhD em enologia. Os dois completam o time de fundadores da The Question Mark. Scherer é a COO da foodtech e Portugal, o diretor científico.
Quando os produtos personalizados deixarem a fase de testes — os investidores são as cobaias do MVP —, os consumidores poderão pedir uma receita customizada de seu leite ou iogurte a partir do código genético para fins de nutrição e resultados de exames de sangue e pico glicêmico.
Se o médico do cliente também fizer recomendações específicas, basta registrá-las na plataforma para que o algoritmo criado pela foodtech modifique a receita. O sistema foi criado com a ajuda de uma banca de geneticistas estrangeiros, disse Campos.
A The Question Mark considera que a indústria está passando pela terceira onda dos testes genéticos. A primeira veio dos testes de ancestralidade e a segunda ficou marcada pelo efeito Angelina Jolie, para descobrir a pré-disposição a doenças.
A aposta é que, com o tempo, os testes genéticos para fins nutricionais repetirão a trajetória dos outros dois, ficando mais acessíveis com o tempo. Atualmente, o preço de um desses testes fica em torno de US$ 400, mas já chegaram a custar US$ 1,5 mil há dois anos. “Ao longo de três a quatro anos, eles vão estar disponíveis a preços acessíveis”.
Enquanto prepara o terreno para a era da personalização, a foodtech tenta ganhar espaço com os lácteos plant based e com receitas assinadas por especialistas conhecidos, como a endocrinologista Natália Almeida Prado, da clínica da nutricionista funcional Patrícia Davidson, e a culinarista Bruna Hey.
Fonte: Pipeline Valor