Brasil usa proteção para evitar fraudes com leite do Uruguai

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Com as exportações de leite e derivados em queda, a indústria brasileira busca proteger o mercado interno utilizando mecanismos do próprio governo, já que Uruguai e Argentina são suspeitos de fraude e triangulação na venda do produto - compra de leite fora do Mercosul, mas que entra no País com tarifa zero.

 

Na sexta-feira, uma missão brasileira desembarcou no Uruguai para negociar a comercialização de leite em pó proveniente do país. Além da possibilidade da triangulação, o país vizinho poderia estar praticando dumping. Este mês, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) já havia decidido submeter as importações de leite em pó do Uruguai a licenças não automáticas e orientou o governo a tentar um possível acordo entre os setores comerciais brasileiro e uruguaio, buscando uma redução voluntária das exportações, a exemplo de um acordo similar fechado com os argentinos em relação ao comércio do mesmo produto no ano passado.

 

A medida se deu após o forte incremento nas compras brasileiras do leite em pó neste ano. Segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, nos primeiros quatro meses de 2009, o Brasil já tinha importado sete mil toneladas de leite em pó do Uruguai e já havia pedidos de importações de mais 14 mil toneladas. Em todo o ano de 2008, o volume importado somou 4 mil toneladas.

 

A invasão do leite uruguaio e argentino ocorreu devido a crise que atinge a produção desses países. Pesquisa feita pela Teresa Herrera & Associados, publicada no jornal uruguaio El País, apontou um cenário de dificuldades econômicas, grandes incertezas com relação ao futuro, fechamento de fazendas e redução da produção. Segundo o estudo, todos os participantes da pesquisa "tiveram que se livrar do gado na produção para sobreviver" e, como consequência da falta de liquidez, "baixaram investimentos em pastagens".

 

Na Argentina, a situação de crise também está levando os produtores locais a tomarem decisões drásticas. Na última sexta-feira, mais de 1,2 mil vacas foram sacrificadas. Os produtores argentinos iniciaram bloqueios às indústrias de lácteos do país. A medida já havia sido anunciada por Eduardo Buzzi, presidente da Federação Agrária Argentina (FAA) durante encontro do setor na província de Córdoba. O líder dos agricultores disse que as paralisações podem ser evitadas caso for criado um espaço sério para discussão de políticas de médio e longo prazo para o setor, mas que poderão ser feitas ações públicas que apontam o esforço por parte dos produtores. "Não podem seguir fechando entrepostos na Argentina enquanto há condições para o crescimento do setor para exportar e manter o abastecimento do mercado interno com um preço justo para o produtor de leite e para o consumidor", afirmou Buzzi.

 

O coordenador da Comissão Interna de Lácteos da FAA, Guillermo Giannasi, afirmou que uma das possíveis ações da entidade se constitui em ir para a frente das lojas de grandes redes de supermercados e distribuir leite aos consumidores como forma de mostrar a desastrosa situação pela qual o setor está passando.

 

"Em 2007, o produtor recebia 76 pesos por litro de leite e essa cifra representava 34% do preço do produto que pagava o consumidor final na gôndola do supermercado", destacou.

 

Indústria brasileira

 

Mesmo com as dificuldades no mercado internacional a produção nacional continua realizando novos investimentos.

 

A Embaré Indústrias Alimentícias, de Minas Gerais, pretende investir dentro dos próximos dois anos R$ 237 milhões em uma planta em Sarandi, no Rio Grande do Sul.

 

O projeto prevê a construção de uma fábrica com capacidade para processar um milhão de litros de leite por dia com possibilidade de ser ampliada para dois milhões de litros.

 

No Município de Matelândia, no Paraná, já começaram as obras para ampliação da unidade industrial de laticínios da Frimesa. A capacidade de operação da fábrica passará dos atuais 90 mil para 150 mil litros de leite por dia e planta ficará responsável pela produção de 30 diferentes itens alimentícios. A estimativa é de aplicação de R$ 4,5 milhões em recursos.

 

Com as exportações de leite em queda, a indústria brasileira busca proteger o mercado interno utilizando mecanismos do próprio governo, já que Uruguai e Argentina são suspeitos de fraude e triangulação.

 

Veículo: DCI


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