Produto subiu 12,1% e contribuiu com 40% dos 0,36% do IPCA em junho
O leite pasteurizado assumiu o papel de principal vilão da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho e no primeiro semestre. Com alta de 12,1% em junho, o produto contribuiu, sozinho, com quase 40% da alta de 0,36% da inflação no mês e impediu uma desaceleração maior do índice ante maio (0,47%). Apesar da pressão dos alimentos, o IPCA, usado como referência para as metas de inflação do governo, prosseguiu reduzindo o ritmo de alta no acumulado do ano e em 12 meses.
A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, avalia que os dados do IPCA "deixam claro uma trajetória declinante da inflação, com substituição das taxas mais altas de 2008 por números mais baixos deste ano". Segundo ela, após sair do nível dos 4% em março de 2008 (quando era de 4,73%), o IPCA acumulado em 12 meses ficou em torno de 5% e 6% até maio de 2009. Em maio, chegava a 5,2% e, em junho, caiu para 4,8%.
"No primeiro semestre do ano passado havia uma situação muito diferente para a inflação, com forte pressão dos preços das commodities por causa da demanda mundial", disse Eulina. Segundo ela, os dados do IPCA do primeiro semestre, com alta acumulada de 2,57%, bem abaixo dos 3,64% do mesmo período no ano passado (3,64%), mostram que a crise conteve a inflação. "O contexto da inflação em 2009 reflete uma diminuição da atividade econômica", disse, citando medidas como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a queda da demanda, que evitou aumentos de preços.
Em junho, o índice veio um pouco acima da mediana das projeções de mercado (0,31%, segundo o AE Projeções), apesar da forte desaceleração no grupo dos produtos não alimentícios, que passou de 0,48% em maio para 0,26% em junho. Segundo Eulina, o resultado da inflação não foi menor porque os alimentos, puxados pelo leite, acentuaram a alta de 0,44% em maio para 0,77% em junho.
Com a aceleração nos reajustes em junho, o leite pasteurizado, que tinha subido 9,77% em maio, acumulou alta de 28,88% no primeiro semestre. Contribuiu sozinho com a maior participação individual - 0,29 ponto porcentual - para o IPCA acumulado de 2,57% no período.
A alta do leite no primeiro semestre superou os resultados acumulados em anos inteiros a partir de 1995, já com o Plano Real. Em todo o ano de 2008, acumulou 4,89%. O recorde anterior de alta, desde o início do Real, havia sido apurado em 2002, ano em que o leite pasteurizado aumentou 22,73%.
O presidente da Comissão Nacional de Leite da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Rodrigo Alvim, disse que a variação dos últimos meses reflete a queda na produção no País, por causa do recuo na demanda internacional pelo produto com o agravamento da crise no segundo semestre do ano passado. Além disso, reflete a entressafra, que ocorre a partir de maio.
Segundo Alvim, a produção de leite no País vem crescendo há mais de 20 anos. Em 2009, haverá forte desaceleração nessa expansão, que ocorria numa média de 4% a 4,5% ao ano, mas não deve ultrapassar 1%. No primeiro quadrimestre de 2009, segundo ele, a produção de leite no Brasil foi 7% menor do que em igual período do ano passado.
De acordo com ele, os produtores de leite estavam animados com o crescente aumento no consumo do produto no mundo, sobretudo nos países emergentes. Com o agravamento da crise, o cenário mudou, os preços internacionais despencaram e os produtores brasileiros reduziram a produção.
Veículo: O Estado de S. Paulo