O governo federal sinaliza um pacote para a cafeicultura a fim de minimizar o endividamento e melhorar a renda dos produtores. No entanto, indústria e exportadores do setor alegam que as medidas poderão travar a comercialização do produto.
Os Ministérios da Agricultura e da Fazenda estão analisando novas medidas de apoio ao segmento, que poderá ser efetivado com um novo programa de opções de venda e de capitalização das cooperativas.
À subvenção do café deverá ser destinada boa parte do recurso da ordem de R$ 1,6 bilhão que o Ministério da Agricultura deverá receber para dar continuidade ao programa de sustentação de preços dos produtos agrícolas.
Durante reunião realizada esta semana, que contou com a presença de representantes do Ministério da Agricultura, Banco Central e Banco do Brasil, as lideranças da cadeia de café discutiram, ainda, a criação de um fundo garantidor, visando a normalidade nas operações de crédito.
"A expectativa é de que o conjunto de medidas possa sair até o final do mês. Durante as discussões, ficou evidenciado que não basta somente a conversão das dívidas do setor, mas igualmente um esforço para o enxugamento da oferta de café no mercado, que poderia ser efetivado com um novo programa de opções e com um novo Pepro, além de um programa de capitalização das cooperativas", explicou o deputado Carlos Melles, presidente da Frente Parlamentar.
Após a reunião, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, voltou a reiterar a importância da aquisição de café para formação de estoques governamentais com o objetivo de garantir renda para o produtor. Stephanes entende que hoje os estoques mundiais do grão estão com os países consumidores que têm sido responsáveis por regular os preços do produto no mercado internacional.
O ministro também sinalizou que os benefícios deverão ser diferenciados de acordo com a região produtora. "A cafeicultura nacional tem situações bem diferentes em cada região produtora e isso deve ser levado em consideração nas decisões de apoio ao setor", disse Stephanes após se reunir com parlamentares da bancada mineira e lideranças do café de municípios da região Sul de Minas Gerais, principal produtora de café no País.
Indústria e exportação
A iniciativa anunciada pelo governo de retirar café do mercado está sendo questionada pelos setores da indústria e de exportação. Para Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), as medidas, da forma como estão sendo conduzidas, serão prejudiciais à indústria que, por sua vez, não foi convocada para as discussões referentes à política agrícola para o café.
Segundo Herszkowicz, as ações do governo repetem estratégias que reconhecidamente deram errado. "Insistir em novos leilões de opção e política de venda e formação de estoques representa continuar na tentativa de esconder o excesso da oferta de produção, motivo pelo qual os preços não evoluem", disse. Para o executivo, o que acontece hoje é o represamento da oferta em detrimento de uma política de ampliação de negócios "ou seja, o mercado hoje pune a comercialização", afirmou.
A proposta da Abic é de que seja feito um ajuste gradual na produção de maneira que equilibre mais a oferta e demanda no mercado interno. "Na medida em que se adota esse represamento e securitiza apenas quem tem estoques, hoje o produtor e a cooperativa, o que se faz é inibir as vendas e manter os negócios travados", disse Herszkowicz.
O setor de exportação também teve uma diminuição significativa da renda, que tem sido agravada pela queda do dólar. Enquanto o preço médio anual em 2008 foi da ordem de US$ 160 a saca, este ano a média tem sido em torno de US$ 135 a saca.
As exportações brasileiras de café no mês de julho alcançaram um volume de 2,18 milhões sacas, para uma receita de US$ 301,1 milhões. Esse volume representa um aumento de 4,7% em comparação a julho do ano passado, enquanto a receita mostrou queda de 11,7% no comparativo do mesmo período de 2008, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Veículo: DCI