A Casa&Vídeo voltará a sorrir?

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A rede de varejo fluminense tem um plano de recuperação e resultados para mostrar. Seu futuro, agora, está nas mãos dos credores

 

Desde que a Casa&Vídeo, tradicional rede varejista do Rio, apresentou seu plano de recuperação judicial na 5ª Vara Empresarial da capital, a vida do novo presidente do grupo, o advogado Fábio Carvalho, está mais atribulada que nunca. Uma de suas novas atividades é uma maratona de visitas a uma centena de fornecedores, acompanhado de outro dirigente, Fernando Luzio.

 

O objetivo é explicar o plano e falar da situação da empresa desde novembro de 2008, quando 13 de seus executivos foram presos na Operação Negócio da China, da Polícia Federal, acusados de contrabando e sonegação de impostos. A partir daí, a rede de lojas populares passou por momentos difíceis: teve as contas bloqueadas e parou de aceitar cartão de crédito. Sem capital de giro, deixou de pagar fornecedores, acumulou uma dívida de R$ 300 milhões e fechou oito endereços.

 

Em alguns segmentos, as vendas caíram 70%. Agora, com as prateleiras cheias, a publicidade retomada e já prevendo uma de suas tradicionais "liquidações malucas" para setembro, o grupo dá sinais de recuperação. "Com um terço do estoque de antes, já chegamos a 70% das vendas feitas no mesmo período de 2008", explica Carvalho. A retomada completa está prevista para 2015, quando a empresa espera atingir faturamento anual de R$ 1,5 bilhão. "A empresa já se estabilizou", comemora Carvalho, um especialista em reestruturações.

 

Profissional da consultoria Alvarez & Marsal, ele participou dos casos da Varig, da LG Philips e do banco Lehman Brothers, dos EUA. Falta uma prova de fogo para que o entusiasmo de Carvalho seja justificado. Em assembleia prevista para setembro, os credores decidirão se aceitam ou não o plano da companhia. É uma etapa decisiva para a sobrevivência da Casa&Vídeo. O plano prevê a criação de uma nova empresa, a Casa&Vídeo Rio de Janeiro, que concentrará as atividades de varejo no Estado do Rio com 61 lojas. Acima dela, a Casa&Vídeo Holding assumirá a dívida reestruturada.

 

Os cerca de 500 credores incluem bancos, administradoras de cartão de crédito e fornecedores, como Sony, LG e Mattel. A holding será controlada pelo FIP-Controle, um fundo de investimento em participações regulado pela CVM e administrado pelo Bank of New York Mellon. "O fundo não gerencia a empresa, não decide se compra batedeira ou panela", diz Carvalho. "É um acionista profissional que cobra resultados e transparência." Segundo ele, a nova empresa publicará seus números periodicamente e passará por auditorias, como se fosse uma companhia aberta.

 

"Ela respeitará o ambiente de governança corporativa", afirma. A proposta de saneamento prevê a conversão de parte da dívida em cotas do fundo - ou seja, os credores se tornariam acionistas da companhia. Débitos inferiores a R$ 80 mil serão honrados em 12 meses, com perda de 40%. Credores com mais de R$ 80 mil a receber poderão optar por duas modalidades de pagamentos semestrais, a partir de 2012: sem desconto, até 2030, ou com 30% de desconto, até 2020. Parte dos credores com mais de R$ 1,5 milhão a receber tem a opção de converter a dívida em cotas, com deságio de 50% no valor. Outros R$ 20 milhões serão oferecidos a investidores.

 

"O fundo poderá emitir mais cotas ao longo da vida", esclarece Carvalho - ele mesmo será um cotista. As dívidas não convertidas em cotas serão pagas pela holding. Segundo a empresa, a demissão de 1,8 mil funcionários foi paga integralmente, e a dívida de R$ 80 milhões com o Fisco, parcelada em cinco anos. A Casa&Vídeo conta com alguns trunfos para voltar a sorrir no varejo do Rio de Janeiro. Um deles é a boa imagem junto ao consumidor.

 

"A rede ocupa um segmento único no mercado", diz o consultor de varejo Marco Quintarelli, do Grupo Azo. "Mas temos que ver se vão cumprir o plano." Para o presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio, Aldo Gonçalves, a crise foi pontual: "A empresa teve um problema tributário, mas não perdeu a saúde financeira." O futuro da empresa agora depende de os credores aceitarem o plano de recuperação.

 

Casa&Vídeo em números
Faturamento: R$ 1,5 bilhão
Dívidas: R$ 300 milhões
Lojas: 61 no Rio de Janeiro
Funcionários: 3,5 mil

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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