Celulose: Venda de unidade de Guaíba para a chilena CMPC vai permitir a volta dos planos de expansão
A Fibria vai retomar a construção de seus projetos de produção de celulose. A empresa concluiu ontem o acordo de venda da fábrica de Guaíba, no Rio Grande do Sul, para a chilena CMPC por US$ 1,43 bilhão. A Fibria, maior produtora mundial de celulose de mercado, usará o dinheiro para abater parte da dívida, que era de R$ 13,4 bilhões em 30 de junho.
Segundo Carlos Aguiar, presidente da Fibria, criada a partir da incorporação da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), serão retomados os plantios de eucaliptos que faltam para a duplicação da Veracel, a joint venture que mantém com a fabricante sueco-finlandesa Stora Enso no sul da Bahia. A construção da fábrica, conhecida como Veracel 2, com capacidade de produção de até 1,5 milhão de toneladas por ano, poderá começar em 2011, prevendo sua operação em 2013, afirmou Aguiar. Como se trata de uma investimento compartilhado com a Stora Enso, o investimento exigirá menos capital.
A fábrica de Guaíba era o projeto mais avançado da Fibria. Mas foi suspenso no fim de 2008 em razão das dívidas contraídas com derivativos pela Aracruz. O projeto era aumentar a capacidade de 450 mil para 1,8 milhão toneladas de celulose a partir de 2011.
Mas Aguiar explicou que a empresa recebeu uma "boa oferta" financeira pela fábrica. Os chilenos acertaram pagar US$ 1 bilhão no dia 15 de dezembro e mais US$ 430 milhões até o fim de janeiro de 2010. Segundo a empresa, o valor significa um prêmio de 27% sobre o custo de uma fábrica similar à Guaíba. Na negociação com a CMPC, a Fibria conseguiu excluir US$ 180 milhões em equipamentos já contratados com os fornecedores do projeto de Guaíba, podendo utilizá-los nos futuros projetos. Além da Veracel 2, a Fibria poderá pôr em pé outras duas fábricas até 2020.
Apesar de permitir o ingresso da rival CMPC na produção de celulose no Brasil, Carlos Aguiar disse que a empresa chilena chegaria de qualquer modo com um projeto de expansão no Cone Sul. O executivo adiantou ainda que a CMPC não deverá pôr em operação a expansão de Guaíba antes de 2015. "São indicações internas que recebemos", disse Aguiar.
A CMPC poderá erguer a unidade antes de 2015, mas o valor de venda levou em consideração esse prazo, segundo apurou o Valor. Se a expansão for feita antes, os chilenos terão de desembolsar mais US$ 250 milhões à Fibria.
A CMPC tem o interesse em retardar o investimento para diminuir seu desembolso no médio prazo. Para financiar a aquisição da unidade, a empresa emitirá US$ 500 milhões em ações além de um bônus no mesmo valor. Procurada, a empresa informou, por meio de sua assessoria, que os executivos da CMPC só deverão se manifestar nesta sexta-feira no Chile.
Os planos da Fibria passam por resgatar o grau de investimento até 2011. Segundo o diretor de relações com investidores da empresa, Marcos Grodetzky, a venda de Guaíba reduzirá o índice de alavancagem (medido pela relação entre dívida líquida e geração de caixa) da empresa. Segundo ele, citando cálculos de analistas, a expectativa é que fique abaixo de 4 vezes em 2010, ante os 5,5 vezes projetados sem o efeito da venda da unidade. A Fibria prevê realizar três operações de crédito - de três, cinco e dez anos - para alongar sua dívida. A empresa está renegociando cerca de R$ 3 bilhões em vencimentos de curto prazo.
Veículo: Valor Econômico