Com adição da farinha de mandioca, o pão perderá qualidade, diz o SIP-MG
As panificadoras de Minas Gerais reagiram contra a aprovação do projeto de lei do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no Senado Federal, na última terça-feira, que libera a adição da farinha de mandioca ao trigo para a produção do pão francês. A mistura permitirá aos moinhos privados a redução de sua carga tributária caso optem pelo uso da mandioca, o que forçaria a queda do preço do pão. Não pagarão a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) nem o PIS-Pasep.
Segundo o projeto, o percentual de mistura aumentará gradativamente ao longo de três anos. No primeiro ano, ficará em 3%, depois em 6% e, a partir do terceiro ano, em 10%. Em caso emergencial, o Executivo poderá reduzir o percentual da adição de farinha de mandioca. Como determina a nova lei, prefeituras, governos estaduais e federal terão de comprar produtos com farinha de mandioca, o que inclui macarrão e biscoitos.
Dependência - A proposta é diminuir a dependência da importação do trigo, que corresponde a 75% do total do produto consumido no país. Porém, a polêmica do projeto está na suposta queda de preço. Enquanto a lei incentiva o barateamento do custo do pãozinho, através da diminuição fiscal, empresários do setor temem que a farinha de mandioca piore a qualidade do pão, prejudicando o consumo final.
"O pão certamente perderá em qualidade na textura, sabor e crocância. Somos radicalmente contra", afirmou o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação de Minas Gerais (SIP-MG), Luiz Carlos Caio Xavier. Segundo ele, o impacto negativo será imenso. "A indústria será prejudicada, pois a fécula de mandioca é cara. Não nos interessa gastar mais para ter um pequeno abatimento tributário", disse.
Para ele, o preço do pão não irá cair, ao contrário do que pretende o projeto de lei. "Como resolveremos baixar o preço se perderemos consumo?", questionou. Xavier afirmou que a liberação seria uma afronta ao setor, que trabalha para aumentar o consumo de pão no Estado. "Crescemos 12% ao ano. Prevíamos R$ 4 bilhões de faturamento de pãozinho neste ano em Minas", informou.
Segundo Xavier, os produtores de mandioca não têm estrutura para atender tamanha demanda. Além disso, a produção de trigo no Brasil não precisaria deste empurrão. "O país dobrou a produção de trigo. A previsão é de 800 mil toneladas de trigo para este ano frente a 400 mil produzidas em 2007", informou Xavier. Ele acrescentou que tudo não passa de manobra política.
O vice-presidente da SIP, Tarcísio José Moreira, suspeita de protecionismo de políticos a favor de produtores de mandioca. "Esta é uma forma de ganhar dinheiro fácil. Estão tentando mudar uma cultura tradicional por meio de um decreto. O pãozinho sempre foi feito apenas com farinha de trigo e Minas não aceita essa mudança", afirmou.
Segundo ele, que também é proprietário de padaria, a inserção de farinha de mandioca iria alterar todo o processo produtivo da indústria, panificadoras e padarias do Estado. "Se a mandioca fosse boa para a composição do pão, seríamos os primeiros a utilizá-la naturalmente. Mas ela não é própria. Imagine colocar suco de uva barato em um vinho importado?", argumentou.
O gerente comercial da Moinhos Vera Cruz, de Juiz de Fora, Dalmo Eduardo, também não acredita que o preço do pãozinho cairá nas padarias. "O risco do pão piorar é questionável, mas a queda de preço realmente não deve ocorrer", ressaltou. O que pode acontecer, segundo ele, é a migração natural do consumidor para os pontos que venderem apenas o pão sem a farinha de mandioca.
De acordo com a proposta, a mistura deverá conter 3% de farinha de mandioca no primeiro ano, 6% no segundo e 10% a partir do terceiro. A economia para o governo foi estipulada em R$ 104 milhões anuais. Para os panificadores, a previsão não é tão boa.
Veículo: Diário do Comércio - MG