Pesquisa do Ibope Inteligência, a pedido da Câmara Americana de Comércio (Amcham), revela que 20% das empresas brasileiras afirmam gastar mais de R$ 300 mil por ano com rotinas burocráticas que envolvem despesas com funcionários, profissionais terceirizados, emissão de documentos e demais atividades.
O estudo foi divulgado ontem durante evento "Descomplicar o que for possível pelo Executivo", realizado pela Amcham, que integra Projeto Competitividade Brasil - Custos de Transação, a ser enviado aos candidatos à Presidência da República.
O resultado foi obtido pelas 211 respostas colhidas entre diretores e conselheiros de empresas filiadas à Câmara, residentes, em sua maioria, nas cidades de São Paulo, Campinas, Recife e Porto Alegre. O período de apuração foi entre os dias 28 de abril e 17 de maio.
De acordo com o Ceo da Amcham, Gabriel Rico, para 72% dos entrevistados, a burocracia gera perdas de competitividade para as empresas e para a economia. Neste quesito, 26% acreditam que a eliminação das rotinas burocráticas elevaria em mais de 3% a lucratividade das empresas. Para 36%, o lucro subiria em, pelo menos, 6%.
A pesquisa mostra também que 67% das empresas acham que as regras exigidas pelo governo dificultam os negócios. Para 20%, as normas estaduais são os maiores entraves burocráticos, e 7% disseram que são prejudicados pelas exigências municipais.
Já 77% acreditam ser possível a unificação dos procedimentos burocráticos das três esferas (federal, estadual e municipal). "Isto mostra que há luz no fim do túnel", observa Rico. "O empresariado observa, ainda, que a gestão no Brasil é muito centralizadora. A distância entre Manaus e Brasília, por exemplo, é como a de Lisboa ao Porto", analisa o advogado Piquet Carneiro, que participou do evento.
Rico comenta que, pela primeira vez na pesquisa desenvolvida pelo projeto da Amcham, houve "uma convergência tão grande" nas respostas. "91% dos consultados pelo Ibope disseram que a existência de entraves burocráticos retarda a concretização de negócios", diz.
Entre os entraves apontados, estão o tempo exigido para cumprimento das obrigações burocráticas (78% de respostas); necessidade de emissão de diferentes certidões e documentos (77%); custos gerados com a burocracia (63%) e clareza dos procedimentos envolvidos (48%).
Com relação ao ambiente interno da empresa, 57% responderam que há necessidade de contratar advogados, contadores e despachantes para atender com clareza e alinhamento as exigências do governo e que estas "impactam muito" seus negócios. Neste quesito, 49% afirmam que o custo gerado nesta contratação também impacta os negócios.
Além disso, 89% disseram que têm investido em tecnologia como forma de agilizar os processos burocráticos. Apenas 9% responderam que não investem.
De acordo com a pesquisa, os consultados indicam soluções que podem diminuir a complexidade dos entraves burocráticos no Brasil, tais como, melhorar os processo de modo a aumentar a eficiência da gestão e administração, recriar o Ministério de Desburocratização, e o registro e cadastro único de idoneidade fiscal.
Análises
"Para solucionar o problema da burocracia, é preciso uma maior transparência do governo, o qual só deve ser alcançado com pressões e discussões de entidades de classe e por empresas. As representações empresariais estão acomodadas", entende o economista e especialista em contas públicas, Raul Velloso.
Ele afirma que a questão da burocracia vem à tona por ser ano eleitoral, mas teme que deixe de ser discutida a partir de 2011. "Levou muitos anos para que a sociedade se conscientizasse de que não dava mais para manter a inflação em altos patamares. Hoje não existe mobilização para expandir mais economicamente. Há a ilusão que o Brasil vai explodir em matéria de PIB. No entanto, quando todos os brasileiros perceberem que crescemos pouco, aí sim, a economia vai avançar de fato", analisa.
Velloso afirma, ainda, que antes de se discutir quais seriam as práticas para a desburocratização no País, os gastos públicos deveriam ser analisados. Na sua opinião, o sistema teria de ser mais simples, sem alterar o volume arrecadado.
Para Piquet, o processo de desburocratização é gradual e seletivo e deve ter caráter político e cultural, de modo que o cidadão tenha interesse em mudar a carga burocrática atual. "Mas tudo depende de força política", diz.
Veículo: DCI