Aluguel atrasado, o "calo" das varejistas

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Redes têm dificuldades em lidar com centenas de contratos com cláusulas diferentes e pagam multa


 
Slezf, diretor de tecnologia da Marisa: "Controlar o aluguel era o nosso calo". A varejista investiu cerca de R$ 500 mil em um software para gerenciar 300 contratosA rápida expansão do varejo está sendo acompanhada de algumas dores de cabeça. As grandes redes têm dificuldades em administrar os imóveis alugados, tendo em vista as diversas especificidades em cada contrato. Para complicar, em muitas vezes o aluguel está atrelado às vendas. Nesses casos, é preciso fechar o mês, subtrair as devoluções de produtos, para então chegar ao faturamento final. O valor pode variar ainda, a favor da varejista, se ela tiver feito benfeitorias na loja, que são descontadas do aluguel. O problema é que uma boa parte das grandes redes costuma manter esse controle em prosaicas planilhas.

 

"Cerca de 10% dos contratos de aluguel no varejo são pagos com multa", diz Gabriel Rodrigues, sócio da Essence, consultoria em tecnologia da informação parceira da SAP, multinacional especializada em softwares de gestão de empresas. A Essence, que tem General Motors, Tecnisa e PepsiCo entre os clientes, implantou na varejista de vestuário Marisa um software para gerenciar os aluguéis da rede, e negocia serviço semelhante com outras duas grandes varejistas. Segundo Rodrigues, em redes que têm entre 100 e 300 pontos de venda, a multa pode somar até 1% do que se paga de aluguel no período.

 

"O problema tende a se tornar ainda mais complexo agora, que as empresas aceleram a expansão abrindo lojas compactas", diz Rodrigues. A própria Marisa é um exemplo: a rede acaba de rever o total de inaugurações deste ano, de 39 para 53 lojas (dessas, 29 no modelo compacto). No ano passado, foram abertos 12 pontos de venda. Atualmente, a Marisa conta com 237 lojas e gerencia cerca de 300 contratos de aluguel, que envolvem também centros de distribuição e prédios administrativos.

 

"Controlar o aluguel era o nosso calo", diz Mendel Slezf, diretor de tecnologia da informação da Marisa. Segundo o executivo, era preciso levar em consideração muitas variáveis, pois cada contrato tem disposições diferentes e boa parte deles está atrelada às vendas do mês. "Era uma correria, mas agora todos os nossos contratos estão mapeados", afirma. O novo software integrou as informações referentes aos imóveis às áreas contábil, fiscal e financeira da Marisa. "Eliminamos qualquer risco de multa".

 

Por meio da solução SAP Real Estate, integrada ao sistema central da Marisa, a varejista passou a ter controle total não só sobre o vencimento do aluguel, como dos débitos referentes ao imóvel, a exemplo de IPTU, água, luz, telefone, condomínio e fundo de promoção (quando se trata de loja em shopping). O sistema emite um alerta sobre a data de renovação do contrato - em alguns casos, é preciso que o inquilino se manifeste com meses de antecedência para não perder o direito à renovação.

 

A Marisa não informou quanto desembolsava ao ano em multas por aluguel atrasado. Pela implantação do pacote de serviços da Essence, concluída em maio, a varejista desembolsou cerca de R$ 500 mil. "O investimento já se pagou", diz Mendel.

 

De acordo com a consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, que trabalha com gestão de contratos de locação, o problema é crônico e afeta outros setores com grande quantidades de pontos, como redes bancárias e operadoras de telefonia (que alugam espaços para instalar antenas). "As empresas crescem violentamente e a chance de perder o controle sobre o aluguel é grande", diz Marina Cury, diretora da Cushman & Wakefield. As multas depois do vencimento variam de 2% a 10%, mais juros de 1% ao mês e IGPM. Nos shoppings, a multa do condomínio é de 2% ao mês.

 

A Cushman & Wakefield tem um sistema próprio de gestão de contratos de locação, onde são cadastrados os dados dos clientes. O sistema emite alertas via e-mail e celular (torpedos) para os clientes na proximidade do vencimento do aluguel e também dos contratos. Mas o serviço mais procurado pelas empresas, inclusive varejistas, é a renegociação do contrato do aluguel, diz a executiva. "O cliente só se interessa pelo desconto que pode obter ao renegociar o contrato, mas não percebe que essa vantagem pode se perder em meses, com as multas que 'desaparecem' dentro do orçamento", diz Marina, para quem o mais irônico é que não falta caixa, mas controle. "É um dinheiro jogado no lixo".

 

Veículo: Valor Econômico


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