Assim como na indústria, o principal entrave enfrentado hoje pelo varejo no país é a pesada carga tributária, que corresponde a cerca de 40% do faturamento das empresas. De acordo com especialistas, o problema é ainda mais grave em razão de despesas extras, decorrentes da aquisição de equipamentos para emissão de cupons fiscais e notas fiscais eletrônicas, além da complexidade e da burocracia para o pagamento de impostos.
"A maioria das empresas varejistas é de pequeno porte. Para estas, quaisquer custos a mais representam um enorme impacto no faturamento e na competitividade", explica o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci.
Além disso, ele ressalta que alguns segmentos, como o de materiais de construção, também são afetados pelos benefícios concedidos à indústria, como a substituição tributária, que permite o pagamento antecipado do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).
"O pagamento deveria ser feito pelas empresas após a venda da mercadoria, e não no ato da sua aquisição. Da maneira como o tributo é cobrado atualmente, se os produtos se quebram ou são roubados, por exemplo, quem arca com o prejuízo é o varejista, que já tem as margens de lucro muito achatadas em razão da concorrência no setor", argumenta Falci.
Para a coordenadora do Departamento de Economia da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Silvânia de Araújo, a carga tributária também é a mais onerosa ao segmento. No entanto, ela destaca outros obstáculos financeiros, como os custos de manutenção dos empreendimentos, os altos juros, a falta de linhas de crédito para o setor e as taxas cobradas pelas administradoras de cartão.
"Além da taxa de 3% para pagamentos com cartões de crédito e débito, o valor da compra só é recebido pelo comerciante 30 dias depois, o que diminui significativamente o fluxo de caixa, levando em consideração que cada vez mais pessoas compram com cartões. Também é difícil encontrar financiamentos que atendam às necessidades do setor, para investimentos em inovação e tecnologia", destaca.
Conforme o professor do Programa de Administração do Varejo (Provar), Cláudio Felisoni, como uma reforma tributária independe da atuação do varejo e ainda não parece estar perto de ser realizada pelo governo federal, o ideal é que os empresários concentrem esforços para solucionar os gargalos da atividade que estão ao seu alcance, como a concorrência.
"A competição é acirrada, as mercadorias são muito similares e disponíveis. Esta é a principal causa das pequenas margens de lucro do setor. Dessa forma, o sucesso de um empreendimento depende da maneira como o seu gestor lida com as informações que recebe. Ele precisa estar atento às necessidades e oportunidades criadas tanto em relação aos fornecedores quanto aos consumidores. Na medida em que interpreta estes dados com eficiência, o varejista consegue identificar tendências e demandas com mais precisão e facilidade, estando sempre à frente da concorrência", ensina Felisoni.
Veículo: Diário do Comércio - MG