As vendas do comércio que ampararam a economia em 2012, já não avançam no mesmo ritmo. Em abril o crescimento foi de 1,6%, na comparação com igual mês do ano anterior. O indicador foi o pior para o mês de abril registrado na última década, revelou a Pesquisa Mensal do Comércio (PMG), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em março, o faturamento crescia ainda em patamar elevado, de 4,5%, em relação ao mesmo mês de 2012. Em abril de 2012 o comércio cresceu 6%. Mas, neste ano, o retorno da inflação não está permitindo que as vendas atinjam o mesmo ritmo de crescimento.
Comparado com março, o varejo cresceu 0,5% em abril, descontadas as influências sazonais. No primeiro quadrimestre, a alta acumulada foi de 3%, um resultado considerado "fraco", segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Diante do desempenho dos quatro primeiros meses deste ano, a entidade reduziu de 5% para 43% a sua previsão de crescimento do setor em 2013. No ano passado, o comércio cresceu 8,4%, segundo cálculos do IBGE, inflação. O aumento da inflação é apontado como o principal fator para o fraco desempenho do comércio varejista. A inflação atingiu especialmente o segmento de hipermercados e supermercados, em queda desde fevereiro, na comparação com o mês imediatamente anterior, segundo o IBGE. Em abril, para a mesma base de comparação, a retração foi de 0,5%.
"O preço está inibindo a compra nos supermercados. Como a população não pode deixar de comer, o que há é substituição de marcas caras pelas mais em conta. Isso pode estar afetando a receita dos supermercados", disse o gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Reinaldo Pereira.
Alimentes. As vendas de alimentos e bebidas surpreenderam Paulo Neves, economista da consultoria LCA Ele esperava um resultado melhor, por causa dos números da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e da Serasa Experian, que indicavam uma melhora de cenário.
Já a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, aposta que a inflação irá perder força e que as vendas de alimentos serão retomadas nos próximos meses. "No atacado, já teve desaceleração forte nos alimentos, que deve aparecer nos índices de inflação do consumidor neste mês", afirmou Thaís Zara. Nas contas da economista, o comércio irá crescer em torno de 6% em 2013.
"A expectativa é de que os dados relativos a maio revelem melhoria frente aos de abril, principalmente em virtude da desaceleração dos preços ao consumidor", previu o economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes.
Câmbio. Embora a perspectiva dos economistas seja otimista para a inflação, outro fantasma começa a rondar o varejo câmbio, Para Reinaldo Pereira, do IBGE "caso a valorização do dólar permaneça, o quadro inflacionário no País irá piorar e terá repercussão no comércio".
Entre os segmentos que tendem a ser afetados pelo câmbio, estão os de hipermercados e supermercados, eletrodomésticos, informática e comunicação, tecidos, vestuário e calçados, segundo o IBGE. Os preços de vários alimentos, como o da soja, seguem as cotações em dólar no mercado internacional.
Além disso, Pereira ressalta que a alta da taxa básica de juros (Selic) tem influência direta nas vendas, como de automóveis, "Tudo que tem reflexo no crédito vai influenciar o comércio", afirmou.
Freio
"O preço está inibindo a compra nos supermercados. Como a população não pode deixar de comer o que há é substituição de marcas mais caras pelas mais em conta. Isso pode estar afetando a receita dos hipermercados e dos supermercados".
Reinaldo Pereira
Gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBG
Veículo: O Estado de S. Paulo