Depois de um primeiro trimestre de desaceleração do consumo, as condições um pouco melhores de renda e crédito e a perda de fôlego da inflação vão garantir resultado mais favorável para o varejo em abril, avaliam economistas. O comportamento positivo das vendas no período, no entanto, não deve representar início de recuperação mais consistente da demanda das famílias, que deixará de ser o motor do crescimento em 2013.
A média de 13 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para avanço de 1,1% do volume das vendas restritas ante março, feito o ajuste sazonal, com intervalo de estimativas entre 0,3% e 1,7%. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) será divulgada hoje pelo IBGE. Para o varejo ampliado, que, além dos oito setores pesquisados no conceito restrito, também considera os de automóveis e material de construção, a expectativa de nove analistas é de alta mais intensa, de 2%.
"Ainda que pequena e gradual, a melhora dos ganhos de renda num ambiente inflacionário mais benigno ajuda a explicar essa reanimação das vendas em abril", diz Paulo Neves, da LCA Consultores, que projeta aumento de 1,4% para o varejo restrito frente a março. Na medição anterior, houve queda de 0,1% sobre fevereiro, com retração de 2,1% no segmento de hiper e supermercados, responsável por cerca de metade da PMC restrita.
A partir de dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que, dessazonalizados indicam alta de 1,1% das vendas na passagem mensal, Neves diz que esse setor teve contribuição fundamental para o consumo no quarto mês do ano, na medida em que o reajuste menor nos alimentos deixou mais espaço no orçamento das famílias. Segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), também do IBGE, o rendimento real dos ocupados cresceu 1,6% em abril sobre igual mês de 2012, ritmo maior do que o 0,6% em março.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, afirma que o que está por trás da volta das vendas ao terreno positivo em abril não é a renda, dado que o mercado de trabalho passa por um processo de acomodação, mas sim uma continuidade da recuperação do crédito. Ele cita o aumento de 7,3% das consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) no mês sobre igual período de 2012, assim como a alta de 5,3% da demanda dos consumidores por crédito frente a março, de acordo com a Serasa Experian.
"As condições de crédito estão ajudando, a despeito de as condições de renda ainda não mostrarem melhora clara", diz Padovani, para quem o varejo restrito irá crescer 1,6% na passagem mensal. A variação mais forte, no entanto, não pode ser extrapolada para o segundo trimestre, porque ainda há alguma cautela nas concessões por parte dos bancos e, pelo lado do emprego, a geração de novas vagas está diminuindo, afirma o economista da Votorantim. "O que deve ajudar mais no segundo trimestre é a retomada cíclica da indústria e alguns fatores setoriais."
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, os indicadores antecedentes do varejo apontam para "melhora importante" no começo do segundo trimestre, mas o cenário para o consumo ainda é de cautela. Em abril, Gonçalves calcula que as vendas restritas subiram 0,8%, mas acredita que ainda é cedo para identificar esse movimento como um ponto de reversão.
Segundo ele, o atual ciclo de aperto monetário pode ter o efeito adverso de moderar ainda mais a demanda. Para o Fator, a expectativa de mais um ajuste de 0,5 ponto na taxa Selic em julho, e outro de igual intensidade em agosto, levando os juros básicos ao patamar de 9% ao fim de 2013, passou a ser "o piso do tamanho e do ritmo do ciclo".
Veículo: Valor Econômico