Os ganhos mais fracos de renda, a moderação do crédito, a confiança do consumidor em patamares baixos e os efeitos defasados do ciclo de aperto monetário devem manter o comércio em ritmo morno neste início de ano, em linha com as perspectivas de recuperação tímida da atividade.
A estimativa média de 19 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que, após recuo de 0,2% em dezembro, o volume de vendas do varejo restrito (não inclui automóveis e material de construção) caiu 0,1% em janeiro, sempre em relação ao mês anterior, feitos os ajustes sazonais.
As projeções para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de retração de 0,7% até aumento da mesma intensidade. Para o varejo ampliado, que tem comportamento mais volátil do que as vendas restritas, a expectativa de 13 economistas é de avanço de 2,5% na passagem mensal, que, se confirmado, vai mais do que compensar o tombo de 1,5% de dezembro.
Rafael Ihara, do Brasil Plural, prevê queda de 0,6% do varejo restrito na comparação com dezembro. Para Ihara, a segunda retração seguida das vendas não é motivo de preocupação, já que, na comparação com o mesmo mês de 2013, o índice deve crescer. O desempenho pouco brilhante dos indicadores que antecedem o comportamento do comércio na abertura do ano, no entanto, sinalizam que o consumo não terá avanço expressivo no primeiro trimestre, afirma.
O único destaque do período, segundo Ihara, partiu do indicador da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que mede a variação real das vendas do setor e apontou expansão de 4,5% em janeiro sobre o mesmo mês de 2013. Essa variação, no entanto, ocorreu em cima de uma base muito fraca. "Todos os indicadores apontam para desaceleração do varejo."
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco estima que as vendas restritas tiveram expansão de 0,7% em janeiro, impulsionadas pelo comércio de móveis e eletrodomésticos - especialmente aparelhos de ar-condicionado e ventiladores. "O efeito do calor sobre as vendas será temporário e devemos ver alguma correção desse movimento nos meses seguintes", afirmam os economistas do banco.
Flávio Serrano, do BES Investimento, também projeta que o comércio restrito teve aumento no primeiro mês ano, de 0,5%, mas, assim como Ihara, avalia que o cenário para a demanda das famílias é de perda de vigor ao longo de 2014. Para Serrano, a tendência é de crescimento ainda mais modesto das vendas do que em 2013, quando o varejo restrito subiu 4,3%, ritmo mais fraco desde 2003.
De acordo com o economista, a expansão da massa salarial real, ainda que em ritmo menos vigoroso do que em outros anos, e a manutenção do baixo desemprego vão continuar dando consistência à atividade do varejo restrito.
O varejo ampliado deve continuar mostrando comportamento mais errático, devido à influência do setor automotivo. "As idas e vindas dos incentivos acabam gerando muita volatilidade nos dados de vendas e de produção", diz Serrano, que espera alta de 1,8% das vendas no conceito amplo entre dezembro e janeiro.
Veículo: Valor Econômico