Por Arícia Martins | De São Paulo
A Copa do Mundo e o recuo da inflação dos alimentos tiveram impacto positivo sobre as vendas de supermercados, mas economistas avaliam que junho foi mais um mês de desempenho modesto do comércio varejista. Segundo eles, as condições mais restritivas para a tomada de financiamento e o esfriamento do mercado de trabalho seguem como principais entraves a uma trajetória mais robusta do consumo das famílias, principalmente em relação às compras de bens duráveis.
Após alta de 0,5% em maio, a média de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, subiu 0,3% em junho, sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de queda de 0,8% até aumento de 0,9%.
Já para o comércio ampliado - que, além dos segmentos de veículos e construção, também considera os oito setores pesquisados no varejo restrito - a expectativa média de 12 analistas é de retração de 0,8% entre maio e junho, tendo em vista os dados ruins do período divulgados pela Fenabrave, entidade que reúne os revendedores de veículos.
Mariana Oliveira, da Tendências Consultoria Integrada, afirma que sua projeção de avanço de 0,3% para as vendas restritas em junho pode ser considerada um movimento favorável, já que, se confirmada, seria a segunda expansão consecutiva do indicador. "Nos meses anteriores, tivemos estagnação ou queda das vendas", lembra. Por outro lado, ela observa que o resultado positivo tende a ser garantido pelas vendas dos supermercados, que representam 50% da PMC restrita e se recuperaram no período, com ajuda da Copa do Mundo e de preços mais comportados de alimentos.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), houve aumento real de 1,29% nas vendas em junho frente ao mesmo mês do ano passado. Cálculo com ajuste da Tendências aponta crescimento de 3,8% sobre maio. Nessa mesma comparação, porém, outros índices usados para estimar o comportamento do varejo diminuíram, como o movimento do comércio medido pela Serasa Experian (-3,2%), a expedição de papelão ondulado (-3,3%) e o indicador de vendas a prazo calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (-4,1%), nota a economista da consultoria.
Para Mariana, é difícil mensurar o efeito líquido do evento esportivo sobre a demanda. O setor de alimentos e bebidas foi beneficiado, mas, o aumento de feriados prejudicou o comércio de rua. De qualquer modo, diz a economista, a piora nas condições de financiamento, com alta dos juros e diminuição dos prazos, e a menor geração de ocupações impedem que o consumo avance a um ritmo mais próximo ao observado nos últimos anos. A Tendências trabalha com expansão de 3,4% do comércio restrito em 2014, índice que cresceu 4,3% no ano passado.
Natalia Cotarelli, economista do banco BI&P, avalia que o impacto da Copa sobre o comércio varejista foi mais negativo do que positivo, apesar dos bons números relatados pelos supermercados. Ela ressalta que sua expectativa de alta de 0,5% para o volume de vendas restritas na passagem mensal é apoiada principalmente nesse setor, enquanto os outros segmentos devem ter "patinado", principalmente móveis, eletrodomésticos e automóveis. Dessazonalizadas pelo BI&P, as vendas de veículos medidas pela Fenabrave caíram 7% sobre maio.
Levando em conta essa nova retração, Natalia calcula que o volume de vendas do varejo ampliado diminuiu 1,5% em relação a junho de 2013. "Os condicionantes do varejo ainda estão fracos", comentou, referindo-se à desaceleração da economia e do crédito. Na contramão, a confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) teve em junho sua primeira alta desde novembro de 2013 e voltou a subir em julho, mas a economista afirma que é necessário esperar os dados dos próximos meses para confirmar se de fato o processo de aumento do pessimismo foi revertido.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco aponta que os dados de junho não mudam a tendência de perda de ímpeto do consumo ao longo deste ano. O Itaú projeta que as vendas restritas cresceram 0,4%, com ajuda da parte de alimentos e bebidas em função da Copa, enquanto o comércio ampliado deve ter recuado 0,9%.
Veículo: Valor Econômico