Consumidor endividado e a previsão de crescimento menor da renda fazem com que as redes tenham de ser mais assertivas no mix de produtos e mais adeptas às promoções e descontos
A perspectiva do pior desempenho dos últimos oito anos no setor supermercadista - com previsão de crescimento de 2% este ano - acende o sinal de alerta entre os empresários, em especial os de pequeno e médio porte.
O bolso do consumidor mais apertado sinaliza a necessidade de melhorias na adequação do mix de produtos ofertados. "O consumidor não quer perder o padrão de consumo adquirido no passado. Ao invés de deixar de comprar, ele passa a racionalizar as suas compras", afirmou o gerente de atendimento da Nielsen, Fábio Gomes da Silva, durante o balanço do ano da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Segundo o especialista, isso aponta que o supermercadista deverá ficar mais atento ao que é ofertado aos clientes. "As categorias oferecidas deverão apresentar um diferencial", disse Silva, lembrando que os consumidores brasileiros esperam fatores como vantagens ao adquirir o produto e promoções.
Do ano passado para cá, segundo o especialista, o varejo todo sentiu os sinais de retração - no setor supermercadista não é diferente.
Mudança de hábito
Pesquisa realizada pela Nielsen no terceiro trimestre de 2014 apontou que o brasileiro foi 5,6% menos ao supermercado. Fatores como o maior endividamento e a inflação, que elevaram os preços dos alimentos, foram os responsáveis pela frequência.
Já o estudo Consumer Insight, realizado pela Kantar Wordpanel também no terceiro trimestre do ano passado, apontou que os brasileiros estão priorizando as compras no início da semana, principalmente em virtude do alto número de promoções que os canais de venda fazem nesses dias. "Os consumidores vão atrás de produtos que tragam satisfação pessoal na hora da compra", disse Silva.
Ainda segundo o levantamento da Kantar, de segunda a quarta-feira são os dias preferidos da semana para a compra, para 37% dos entrevistados. Este número vem aumentando ao longo do tempo. Em 2009, por exemplo, esse índice era de 33%.
A compra durante a semana ganha cada vez mais peso. No atacarejo essa importância é ainda maior: 68%. Entre os brasileiros entrevistados pela Kantar, as compras realizadas nos finais de semana representam 34%. Já 29% preferem quintas e sextas-feiras.
Ajustes econômicos
O desempenho menor deve-se aos ajustes econômicos que o País passará ao longo deste ano. Além da inflação, mesmo que mais contida, o setor alimentar ainda pressionará os preços ao consumidor. "A estimativa está nesse patamar, pois estimamos uma leve alta no desemprego, que não deve passar de 5,7% este ano. O rendimento da massa salarial será de 1,2%, apenas. Isso afeta diretamente o consumo das famílias", explicou Yamada. O presidente da Abras, ao ser questionado sobre uma possível revisão para o crescimento de 2% deste ano, afirmou que "só se for para maior".
A crescente preocupação com o desabastecimento de água e com a possibilidade de apagões parece não tirar o sossego dos supermercadistas brasileiros. "A grande maioria das redes já trabalha com o reúso da água de chuva para a limpeza da loja e dos banheiros", afirmou Yamada.
Sobre uma crise energética, o presidente da entidade afirmou que, hoje, os supermercados não dependem exclusivamente da distribuição de energia. "Os lojistas produzem energia e todos têm geradores que aguentam até duas horas". O aumento da tarifa também não é motivo de alarde. "Hoje, a cada R$ 100 faturados numa loja, R$ 1,50 é para energia".
Yamada ressaltou também que 70% do consumo de energia de um supermercado ficam por conta do ar-condicionado e dos refrigeradores. "Muitos já aderiram à proposta de modernizar o sistema de refrigeração", concluiu ele.
Volume de venda
As mudanças no hábito de consumo fizeram os supermercadistas apresentarem um volume menor de vendas no ano passado. Dados da Abras (Índice de Vendas dos Supermercados ) apontam que no acumulado do ano, os mais de 84 mil supermercados em operação no País tiveram incremento real de 2,24% em suas vendas. Em 2013 esse indicador foi de 5,36%. "O crescimento dos supermercados tem se mantido sustentável no Brasil nos últimos 10 anos", informou o presidente de Associação, Fernando Yamada.
O balanço apresentado foi superior à perspectiva de 1,9% feita pela entidade em agosto do ano passado. "Em janeiro de 2014, a nossa expectativa era de crescimento de 3%. Revimos o índice para 1,9% e, como já era esperado, superamos as previsões feitas", disse ele.
Mesmo sendo o pior desempenho do varejo alimentar desde 2006 - quando o setor apresentou queda de 1,59% nas vendas no acumulado do ano - Yamada afirmou que os supermercadistas e fornecedores estão otimistas para o desempenho de 2015. "Eu sou um eterno otimista. Nosso desempenho tem sido sempre positivo, apesar de não ser crescente", argumentou.
Veículo: DCI